sábado, 30 de julho de 2011

Caindo na real

Nas primeiras consultas com o psicólogo eu já percebi que realmente precisava algo daquele tipo.

Eu tenho um marido que é um ser iluminado, que sempre me diz coisas lindas e verdadeiras e que muitas vezes consegue me trazer à realidade e me faz enxergar a vida com outros olhos e não com os olhos do desespero. Mas ter um momento com um terapeuta tem feito uma diferença muito grande. As coisas que ele me diz são na maioria das vezes coisas que o Amaral me fala, a diferença está na forma de como é falado. Não sei, não tem como explicar mas é diferente. Ele estudou pra isso, então sabe usar as técnicas pra atingir o objetivo.

Na primeira consulta ele me disse que não era ele quem resolveria os meus problemas, disse que eu mesma faria isso. Disse que ele estava ali pra me ajudar a ver esses problemas e a trata-los, mesmo que pra isso eu precisasse chorar, e levar umas sacudidas de vez em quando. E ele não me mentiu.

Eu já tinha conhecido o trabalho de alguns psicólogos, e o que sempre soube é que você chega numa sala e tem lá uma pessoa te olhando esperando que você fale. Essa pessoa está ali apenas pra te ouvir. Era isso que eu imaginei que seria, mas com o Régis, tudo é muito diferente. Ele me ouve sim, mas também fala, e fala muito. As vezes ele me fala coisas que dão uma chacoalhada na minha cabeça e me faz perceber coisas que eu jamais tinha percebido. Tudo na vida depende do ponto de vista, e é isso que acontece na terapia: o Régis me ajuda a abrir meus horizontes e ver as coisas por outros ângulos.

Tenho consciência de que ele é apenas uma ferramenta, porque quem executa a mudança sou eu mesma, mas também sei que não conseguiria mudar certas coisas sozinha.

Nas primeiras consultas saí do consultório dele chorando. Chorei muito durante a nossa hora e o principal assunto sempre foi, e ainda é, o João Pedro. Falamos muito sobre tudo que aconteceu nesses últimos meses da minha vida, ele me conta exemplos de outras pacientes (claro que sempre discreto, sem citar nomes, fala apenas das histórias pra usar como comparação).

Falei pra ele que pra mim, esta segunda gestação era o João Pedro tentando retornar. Falei tudo o que eu pensava a respeito disso e ele foi categórico em me dizer que não. NÃO É O JOÃO QUE VOLTOU.

Naquele dia achei até ele meio seco, sei lá. Claro, eu estava sendo contrariada. Tinha enfiado uma coisa na minha cabeça e me fazia bem pensar daquele jeito, então não queria admitir que a coisa podia não ser como eu pensava.

Como o Régis é médium e trabalhador do Boa Nova, ele usa durantes as seções de terapia algumas técnicas espirituais e pode até manter contato com o outro plano. Percebo algumas vezes que ele muda o tom de voz, o olhar e diz algumas coisas taxativas. Claro que eu não fico perguntando se ele está em contato com espíritos, deixo ele trabalhar livremente, mas fico observando e tentando captar as informações.

Uma das coisas que me chamou muito a atenção, é que ele sempre se refere ao João Pedro como JOÃO. Aí um dia eu falei tanto no JP que o Régis me disse “deixa eu te perguntar uma coisa: pq tu chama ele sempre de João Pedro se o nome dele é só João?” Fiquei meio assim, pensando como ele sabia. Aí contei pra ele que na verdade Pedro é meu sobrenome, então escolhemos um nome que combinasse e acabou virando João Pedro, mas na verdade Pedro era também o sobrenome dele. Então o Régis disse: “é, mas ele é João”. Achei aquilo um tanto estranho, e comecei a ligar alguns fatos: quando recebi cartas psicografadas dele, a assinatura das cartas era João. Recebi uma vez uma resposta que pedi aos céus, e a resposta veio com a descrição JOAO. Sei lá, acho que pro Régis dizer tão certo que o nome dele é João, é porque ele pode ter recebido algum sinal. Pode ser, mas independente disso, eu continuo o chamando de João Pedro, assim me soa mais familiar.

Eu já andava me sentindo melhor depois que iniciei a terapia. Toda quinta é um dia esperado, pois eu sempre saio de lá com alguma descoberta nova sobre mim mesma.

Em uma das consultas eu contei a ele sobre um sonho que eu havia tido naquela noite. Um sonho que pareceu muito real e quando eu acordei, parecia mesmo que tinha acontecido.

Sonhei que estava no meu quarto, e uma colega de trabalho estava me visitando, de repente, passou um clarão no quarto e essa minha colega pegou um pedaço de papel e me perguntou “como faço pra escrever nesse papel ´tem um vulto aqui?´” lembro que olhei pra ela e ela perguntei “como assim? Que vulto?” então ela me disse “não sei como te dizer, mas eu to vendo um vulto de criança aqui no teu quarto. Não consigo ver ele direito porque ele não é bem definido, mas sei que é uma criança” daí lembro de responder pra ela “não se assusta, deve ser o meu filho que está aqui com a gente”. Falei isso rindo e fui saindo do quarto, e quando cheguei na sala, tinha um vaso de rosas vermelhas lindíssimas no chão. As rosas estavam bem abertas e exalavam um perfume maravilhoso. Fui em direção ao vaso para pegá-lo e quando toquei no vaso me acordei.

Acordei ainda sentindo o cheiro das rosas. Estava meio dormindo, meio acordada e fiquei me perguntando “foi realmente um sonho?” “será que o Amaral me trouxe flores e não vi?”. Dei um salto da cama e fui direto na sala procurar as rosas, aí então me deparei com a sala da minha casa bagunçada, como a realidade, e percebi que havia sido sim um sonho.

Quando terminei de contar pro Régis sobre o sonho, na mesma hora ele me perguntou “a que filho tu tava te referindo?” e eu respondi “ao João Pedro, claro”. Aí ele me disse que achava que estava na hora de eu perceber que existe um outro ser em minha vida. Comecei a achar meio estranha aquela conversa, mas ele seguiu falando e me disse “Grayce, pra mim está muito claro, esse ‘sonho’ não foi um sonho, isso aconteceu. E esse vulto que a tua colega viu não era o João, era esse bebê que tu perdeu”. Quando ele disse isso, eu me arrepiei toda e comecei a chorar e perguntei pra ele o que ele tava querendo dizer. Então ele me respondeu que pelo entendimento que ele tem da doutrina espírita, ele sabe que realmente um espírito pode retornar na mesma mãe, mas que isso não acontece assim tão rápido, e que o João Pedro precisa ficar um tempo no plano espiritual pra se recuperar e um dia quem sabe poder voltar, não necessariamente em mim. Enquanto ele ia falando isso, eu me desmanchava chorando. Ouvir que não era o meu João Pedro estava me doendo de mais.

O Régis fez uma pausa, me deixou chorar, e então olhou pra mim e perguntou “tu gostaria de ver os TEUS filhos sofrendo?” eu só consegui sacudir a cabeça negativamente e ele continuou “pois é, ELES também não querem te ver sofrendo. Tanto não querem que um deles veio te ver e te trazer flores esta noite”. Quando ele falou aquilo, foi como se uma tempestade tivesse se desfeito na minha frente. Foi como se eu estivesse em frente a um paredão, e esse paredão fosse se abrindo e por trás dele fosse aparecendo uma linda paisagem, e essa imagem me transmitia muito amor e felicidade. Foi como se tivessem me jogado um pozinho mágico e automaticamente eu fosse me curando de algum mal. Não sei como descrever a sensação que senti, só sei que meu coração se abriu e eu pude sentir amor em dobro.

Chorei muito, e então o Régis me disse “Grayce, o teu bebê te ama, tu não sabe quem ele ou ela é, mas tenha certeza de que durante algumas semanas existiu dentro e ti um ser que é ligado a vocês, e este ser veio no teu sonho pra se fazer presente, pra te dizer ‘oi mãe, eu também tô aqui, eu também te amo’. Ele quer que tu saiba que ele também está sempre perto de ti.”

Eu fiquei em choque com tudo aquilo. Realmente eu precisava dessa sacudida, precisava cair na realidade e ver que a gravidez do João Pedro era uma coisa, e essa segunda gravidez era outra. Nunca ninguém tinha falado comigo como ele falou. Quando ele usou o termo “TEUS filhos”, foi tão forte, que eu pude perceber que não era só um, que eram dois. Meu Deus, eu ‘tive’ dois filhos, consequentemente, ‘perdi’ dois filhos. Foi um baque pra mim.

Foi ótimo poder entender que eram coisas diferentes, mas ao mesmo tempo veio aquela tristeza de saber que eu também não tinha o meu segundo filho. Perder um filho é uma dor terrível, descobrir que perdeu dois então, é inexplicável. É estranho isso, pois até então eu estava tratando como se eu tivesse perdido o mesmo filho duas vezes, agora sei que na verdade foram dois filhos e duas perdas.

As pessoas do meu convívio (família) sempre me falavam que eu não devia pensar que aquela segunda gravidez era o JP, mas no fundo no fundo, todos também tratavam como se fosse ele. Tinham nesse segundo bebê a expectativa de fazer com ele a mesma coisa que fariam com o João Pedro, então tudo meio que se misturava e ninguém tinha conseguido me convencer de que eram coisas separadas.

Saí da consulta com duas sensações: feliz por ter entendido e captado a mensagem que o Régis me passou e triste por saber que havia perdido outro filho. Com esse misto de sentimentos, minha cabeça começou a trabalhar, os pensamentos começaram a fluir e logo o peso na consciência se instalou...

quarta-feira, 27 de julho de 2011

Sempre tem uma luz no fim do túnel

Escrever o post anterior não foi nada fácil. Pensei muito se contaria ou não abertamente sobre essa segunda perda. Pouquíssimas pessoas sabiam disso. Apenas nossos pais, irmãs e amigos mais íntimos. Nem todos da nossa família estavam sabendo, e não sabia como seria pra eles quando soubessem. Talvez alguns ainda nem saibam, pois não acessam internet, e como este é um assunto que não saimos falando aos quartro ventos, é bem possível que ainda se choquem se souberem.

Preferimos segurar esse notícia, justamente pelo fato da especulação. Mesmo sendo poucas as pessoas que sabiam, ainda ouvi coisas do tipo: “será que um dia tu vai conseguir ter filhos?”, “se tu perdeu era porque o bebê tinha problema”, “vcs não vão fazer um exame pra seber se não ter sempre filhos com defeito?”, “por que tu não desiste de engravidar e adota?”... É minha gente, ouvi barbariedades. Claro que sei que na verdade  as pessoas estavam preocupadas comigo e queriam ajudar, mas infelizmente, muitas vezes ao invés de ajudar, acabam criando uma situação desconfortável.

Fiquei sim muito encucada com tudo que aconteceu. Sempre soube que abortos espontâneos podem acontecer devido à alguma mal formação fetal, e era impossível não passar isso pela minha cabeça. Então, 10 dias depois, quando retornei ao meu médico para revisão, conversei muito com ele a respeito do assunto.

Ele nos explicou que as nossas duas situações de perda são casos isolados, e uma não tem nada a ver com a outra. O agravante é que ocorreram em um curto espaço de tempo, e tudo isso é traumatizante. Ele me explicou que as complicações (ameaças de aborto) que tive na gravidez do João Pedro, eram problemas físicos meus, e não do feto. Que aquilo tudo que aconteceu não era que meu corpo estivesse identificando uma mal formação, porque HDC é um tipo de mal formação que não é genética.

Ele me disse que se faz o exame de cariótipo para análise de outros possíveis problemas, já que alguns estudos comprovam que certos problemas genéticos, podem somatizar a outros e gerar mal formações como HDC. Muitos bebês com HDC têm outros problemas relacionados, mas na verdade são os outros problemas que têm a HDC relacionada. É um tanto confuso, mas ele conseguiu me explicar que a HDC pode vir sozinha, sem nenhum outro problema relacionado, e também que podem existir problemas genéticos que contribuam para a formação de HDC. Me explicou também que quando um bebê nasce, é feito uma espécie de vistoria física e clínica na criança, a fim de identificar problemas relacionados e que o João Pedro não apresentou nenhum outro problema além da HDC. Ou seja, não foi um problema genético.

Já sobre nossa segunda perda, o médico nos disse que o que aconteceu é mais comum do que se imagina. Os índices mostram quem 80% das gestações não passam da 12ª semana por N motivos ou até mesmo sem motivos, simplesmente por não evoluir, como se fosse uma receita de bolo que não tivesse dado certo. Nos falou ainda que no nosso caso, como não foi aborto espontâneo, não houve identificação de mal formação, apenas o embrião não evoluiu.

Chega até ser um disparate fazer uma comparação dessas, mas eu consegui entender melhor quando o médico associou à receita de bolo. Uma coisa é um bolo não dar certo porque foram usados ingredientes estragados, por exemplo, e outra bem diferente, é usar tudo certinho e mesmo assim o bolo não crescer. Quem nunca teve a surpresa de abrir o forno e ver que o bolo não cresceu, mesmo tendo feito tudo certinho??? A mesma coisa pode acontecer com qualquer gestação até as 12 semanas. Pode simplesmente não crescer...

Depois de conversarmos muito e receber todas estas explicações do médico, me senti um pouco melhor. Pelo menos eu soube que não é um problema da nossa ‘mistura’. O médico ainda me disse que eu deveria ficar feliz, pois muitos casais chegavam ao seu consultório e descobriam que não podiam engravidar.  E nós somos férteis, temos a chance de poder ter filhos. Só que ainda não foi desta vez.

Aí quando a ciência não explica, a fé é o que conforta.

Eu precisava me apegar em alguma coisa que me confortasse, que me fizesse acreditar que tudo que estava acontecendo tinha uma explicação. Explicação essa que a medicina não deu. Então comecei a ligar alguns fatos, e a interpretar as coisas da maneira que era mais conveniente a mim e enfiei na minha cabeça que esta gestação perdida, era o espírito do João Pedro tentando retornar e que não conseguiu.

Passei a freqüentar um centro espírita quando descobri a HDC e lá encontrei muitas respostas e principalmente muito conforto. Me dediquei mais ao estudo da doutrina e pelo que li, aprendi que é possível um espírito retornar na mesma família, inclusive na mesma mãe. (Quem se interessar pelo assunto, sugiro ler o livro “O amor me trouxe de volta” de Carol Bowman).

Diante de tudo o que estava acontecendo, acreditar que era o JP de volta me confortava muito. Com certeza temos uma ligação de amor que vem de outras vidas, e a dor que eu sinto pela falta dele é tão grande, que não me deixava raciocinar direito. Eu estava sofrendo a perda recente de uma gestação mas ainda não tinha nem curado o sofrimento da perda do meu filho há 6 meses. Tudo aquilo era muita coisa pra mim. Era um turbilhão de sentimentos que mexiam de mais com meu emocional e eu achei que realmente pudesse estar ficando louca.

Não é fácil admitir isso abertamente, mas quem já perdeu um filho, sabe o que passei (e ainda passo). A gente fica mesmo enloquecida.

O Amaral conversava comigo e tentava me alertar que eu podia estar me iludindo, mas eu não aceitava pensar diferente. Era confortante pra mim, pensar que o meu filho estivesse buscando por mim mais uma vez. Só que com o passar do tempo, isso foi ficando insustentável. Só o fato de pensar que ele tentou retornar não adiantava mais, eu precisava saber por que não tinha dado certo. O que eu tinha feito pra receber o castigo de não poder ter meu filho comigo???? Entrei numa neura tão grande, que um dia, em casa, assistindo novela, vi uma cena em que o personagem no Lázaro Ramos chorava emocionado ao lado do bercinho do seu filho, jurando pra ele que seria um bom pai e que o amaria pra sempre. Vendo aquela cena, me revoltei pensando no ‘porque eu não posso ter o meu filho aqui pra poder jurar pra ele as mesmas coisas?’.

Naquele dia eu pensei que fosse morrer de tanta dor e sofrimento, e na verdade era isso mesmo que eu queria. A tentação passa muito perto quando estamos desesperados.... O Amaral chorava junto comigo e lamentava dizendo que não sabia mais o que fazer pra tentar me ajudar. Ele me falou coisas lindas, sobre minha força e minha garra, mas nada daquilo servia pra me colocar de volta ‘no mundo’. Com toda a calma e paciência que lhe é nata, o Amaral foi conseguindo me acalmar, me tranqüilizar até que voltei à realidade e então ele me implorou que eu buscasse ajuda profissional.

Ele nunca foi a favor de psicólogos ou psiquiatras, sempre achou que qualquer pessoa era capaz de controlar seus sentimentos, mas diante de mim naquela situação, e vendo que não conseguiria fazer mais nada por mim, ele acabou se rendendo e me pediu pra procurar auxílio de um terapeuta.   

Consegui indicação de dois nomes com uma colega de trabalho que também freqüenta o mesmo centro espírita. As duas indicações que ela me deu são de profissionais que trabalham com psicoterapia voltada ao equilíbrio mental e espiritual. Achei muito interessante, pois só conhecia aqueles profissionais que te mandam falar e não te dizem nada. Fiz uma consulta com cada um pra ver qual deles eu mais me agradaria e, entre custo e benefício, acabei optando por um deles que ‘casualmente’ é uma trabalhador do centro espírita que freqüento.

A terapia semanal tem sido  a minha salvação...

terça-feira, 19 de julho de 2011

Mais uma queda no meio do caminho

Quando eu pensava que estava me recuperando da falta que o João Pedro me faz, levei outro tombo....

As coisas estavam acontecendo naturalmente. A data do casamento estava marcada e eu já me sentia um pouco mais forte em relação a todo o acontecido, mas sabia que só conseguiria me sentir completa quando tivesse outro filho. Isso era um objetivo. Jamais pensei em desistir e sabia que assim que meu médico me desse o ok, partiria para as tentativas.

Tive consulta com meu gineco obstetra no início de março, quando completava 3 meses. O médico me examinou e nos disse que não havia problema algum e que poderíamos tentar engravidar novamente se nos sentíssemos preparados.
Lembro bem das palavras dele: “isso é como andar de bicicleta! Tu pode voltar a pedalar, mas tem que estar ciente que pode cair outro tombo”. Entendi perfeitamente o que ele quis dizer, mas diante das evidências de que minha saúde ginecológica estava tudo bem, nem pensei em nada.

Como da primeira vez tive muita dificuldade pra engravidar (demoramos quase 1 ano e meio), pensei que desta vez também demoraria. Mas aí veio uma grande surpresa...

No meio do mês de abril, uma semana depois de terminarmos a trezena de Santo Antônio, onde pedíamos a graça e poder ter filhos novamente, tivemos um teste de HCG positivo. Meu Deus, quanta felicidade. Na primeira tentativa já conseguimos.

Eu e o Amaral choramos muito, não acreditávamos que estava acontecendo.  Parecia que todo aquele tormento que havíamos passado estava se diluindo em meio a felicidade que sentíamos. Decidimos não contar nada a ninguém, por enquanto. Daríamos a notícia no dia do casamento. Eu ficava imaginando como seria emocionante...

Eu ainda não tinha voltado a trabalhar, estava terminando meu período de licença maternidade e o Amaral havia tirado férias pra ficarmos juntos. Foram dias muito felizes, pensando e planejando nosso futuro com nosso segundo filho.

A primeira eco estava marcada para dia 3 de maio. Pelas minhas contas eu estaria completando 8 semanas. Só que no dia 2 de maio eu tive um sonho estranho. Sonhei que saí na frente de casa e tinha uma lua cheia muito linda. Olhei pra lua e de repente ela se transformou no Santo Antônio com o João Pedro no colo. De repente os dois me abanavam sorrindo, como se Santo Antônio me dissesse: “fica bem, pois teu filho está comigo”. Acordei com uma sensação estranha, uma paz... que foi interrompida logo a seguir...

Quando me levantei percebi que eu estava sangrando. Me apavorei... o Amaral deu um salto da cama e enquanto ele se arrumava eu tomava um banho. Nos arrumamos em minutos e saímos voando direto pro hospital.

Tentei me manter calma, mas era impossível não passar um filme pela minha cabeça. Não queria acreditar que pudesse estar acontecendo o pior.

Chegando no hospital demoraram um pouco pra me atender, até que a médica veio e então percebi que era a mesma que havia me atendido no dia do parto do JP. Ela tentou me tranquilizar, dizendo que sangramentos nessa fase poderiam ser normal que eu não devia ficar nervosa.

Me encaminhou para o exame de US e assim que o médico posicionou a sonda ele já disse: “não é 8 semanas não, é 5. Olha aqui ó, tem batimentos, mas ainda é muito pequeno, tem só 2 mm, por isso não conseguimos ouvir. Fica tranquila que esse sangramento é normal”.

Fiquei um pouco mais calma. Já tinha passado por isso uma vez e sabia que sangramento nem sempre levava ao pior.

Fui no meu médico e ele me disse a mesma coisa. Ele me explicou também que até as 12ª semana de gestação, quando uma mulher entra em processo de abortamento, não há o que fazer, então que se fosse isso que estivesse acontecendo, a única coisa que poderíamos fazer era ESPERAR. Ele me pediu uma eco para dali 10 dias e disse que eu não fizesse nenhum esforço pra não facilitar.

Tentei seguir minha vida sem encucar. Afinal, eu tinha pedido através da trezena e Santo Antônio me atendeu, além disso, eu sonhei com Ele naquela noite e interpretei aquele sonho como um “fica tranquila, tá tudo bem”. Então, o que poderia dar errado???

Diante destes fatos, eu tive a certeza que tudo daria certo. Conversei com o Amaral e decidimos que contaríamos pras nossas famílias. Faríamos igual da outra vez, contaríamos no dia das mães, que seria no domingo seguinte.

Como nós teríamos que nos mudar no outro final de semana, convidamos nossas mães pra almoçarem com a gente com a desculpa de ser o último churrasco naquela casa. Elas aceitaram e não desconfiaram de nada.

Neste meio tempo, eu retornei ao trabalho. E claro, tive que contar pro meu chefe o que estava acontecendo. Alguém no trabalho precisava saber, pois eu precisaria sair mais cedo de vez em quando pra ir ao médico, então abri o jogo pra ele. Como ele é muito gente boa (não é o mesmo chefe que eu tinha no ano passado) me deu a maior força e respeitou a minha vontade de não contar pra ninguém ainda.

Aproveitei que estava trabalhando em São Leopoldo, onde tem um centro muito movimentado e cheio de lojinhas e fui às compras. Comprei pra dar de presente para as futuras vovós uma guirlanda de porta, onde tinha umas vovozinhas sentadas e dizia “na casa da vovó a gente pinta e borda”. Coisa mais linda, tinha certeza que elas iam amar.

Chegou então o dia das mães. Eu estava com dois sentimentos: feliz pelo novo bebê, mas triste pela falta do João Pedro. Este seria meu primeiro dia das mães com e sem ele. Eu estava confusa...

Nossas famílias chegaram e então era hora dos presentes. Chamei o Amaral e entregamos os presentes pras nossas respectivas mães. Quando minha mãe abriu o pacote, percebi que ela ficou sem jeito, um pouco envergonhada. Acho que ela não estava entendendo. Então eu coloquei a mão na barriga e disse "isso é pra esse que tá aqui dentro poder dizer que pinta e borda na casa da vovó”. Todo mundo ficou se olhando, ninguém se entendia, até que minha irmã deu um salto e começou a choradeira. Era todo mundo de novo, igual ao ano passado, se abraçando e chorando. A história se repetia, mas eu tinha certeza que desta vez o final seria diferente.

Acalmamos os ânimos e então contei sobre o sangramento. Ficaram todos apreensivos, mas com fé e acreditando que tudo teria um final feliz.

Na quinta-feira seguinte, dia 12, eu teria nova eco. Marquei no melhor lugar de Porto Alegre, pra não ter perigo de erro. Chegando lá, de cara já vi que tinha algo estranho. A médica ficou remexendo, disse que tinha crescido, mas.... aquele MAS foi pavoroso. Eu já tinha experiência em ecografia, e antes mesmo que ela me dissesse, percebi que não havia batimento cardíaco. O embrião tinha crescido, estava com 8 mm, mas além de não ouvir o som dos batimentos, não tinha nem a pulsação. Ali já vi que tinha algo errado.

A médica que realizou o exame tentou me tranquilizar, disse que poderia ser muito cedo e que por isso não tinha batimentos ainda. Percebi que ela estava tentando me enrolar. Saí de lá desesperada e fomos direto pro meu médico. Lá ele me disse que poderia ser muito cedo sim, mas que isso é muito pouco provável, pois na eco anterior víamos pelo menos a pulsação e agora não víamos nada. Ele me alertou que poderia sim ser um aborto. Ouvir aquilo foi desolador. Não podia ser.... não era verdade.

Ele me disse que seria prematuro fazermos um procedimento de curetagem, que teríamos que ESPERAR pelo menos mais uma semana, fazer outra eco pra garantirmos que realmente não era um engano. Além do mais, se fosse um aborto, eu poderia expelir espontaneamente, e para isso só podia fazer uma coisa: ESPERAR.

Saí do consultório em desespero. O Amaral como sempre, conseguiu manter a calma, mas eu percebi que ele estava mal. Fomos direto pra casa da minha mãe e quando cheguei lá, já cheguei em prantos. Contar pra ela e pra minha irmã foi horrível. Lembro que a minha mãe me olhou chorando e disse “minha filha, mais uma vez, nós vamos passar por isso juntas”. Foi horrível aquele dia.

Eu me senti uma incompetente, uma inútil, que não era capaz nem de conseguir segurar uma gravidez. Deixei escapar pra minha mãe que eu estava com vergonha de olhar pro Amaral, dele pensar que eu não era capaz de lhe dar um filho. Ele ouviu e ficou louco, perguntando como eu era capaz de pensar uma coisa dessas.... Que acima de qualquer coisa eu era a mulher dele, a pessoa com que ele havia decidido ficar, com ou sem filhos. Mas na minha cabeça não passava outra coisa, só que eu era uma inútil, incapaz...

Fiquei muito mal, não consegui nem ir trabalhar no outro dia. E ainda por cima, tinha uma mudança pela frente. Éramos obrigados a nos mudar naquele final de semana, tínhamos que entregar a nossa antiga casa para os novos moradores. Então mesmo com tudo isso acontecendo, tivemos que arrumar as malas, desmontar os móveis e ir levando as coisas.

Tivemos que dar a notícia pras minhas cunhadas em meio à bagunça da mudança. Minha amiga Vivi, que era madrinha do JP e seria uma das madrinhas deste bebê, também soube desta forma conturbada. Foi um tormento pra todo mundo. Mas no fundo todo mundo ainda tinha uma esperançazinha de na outra eco estar tudo certo.

O fardo era grande, e carregar tudo aquilo era de mais pra minha cabeça. As poucas pessoas que sabiam, ficavam apreensivas e me diziam: “tu não pode ficar esperando, vai no médico porque se é mesmo um aborto, tu pode ganhar uma infecção”. Coisa de leigos, sem conhecimento técnico do assunto. Como eu também não conhecia, acabava acreditando e ficava encucada. A essas alturas eu nem sangramento tinha mais, mas ficava só pensando que se era um aborto, que tinha que expelir logo, senão eu teria uma infecção e com isso ficaria com problemas e nunca mais poderia engravidar. Tanta coisa passava pela minha cabeça, a pressão era tanta, eu estava tão encucada que comecei a achar que minha barriga estava inchando. Então no domingo de tarde no mercado uma senhora olhou pra mim e disse pro netinho dela “olha alí ó, tem um nenê na barriga daquela titia”. Fiquei tão apavorada, que tinha certeza que minha barriga estava inchando. Comecei a ficar neurótica, achando que estava com infecção e pedi pro Amaral me levar pro hospital.

Chamei a minha mãe pra ir com a gente. No fundo no fundo eu queria mesmo era fazer de vez uma outra eco pra saber se aquela outra não estava enganada. Lá no hospital fizeram o exame e constataram que realmente era uma gestação não evoluída. O inchaço era psicológico. Não havia nada de errado fisicamente comigo. O embrião estava bem implantado, sem sangramento e sem sinal de aborto espontâneo. Tinha que continuar ESPERANDO....

Não havia mais o que fazer. Já era a segunda eco afirmando a não evolução. Os médicos me diziam que era melhor ESPERAR pra sair sozinho, pois seria mais saudável pra mim e a recuperação seria melhor, mas em contrapartida, tinha o meu emocional. Como ficar com aquele bebê dentro de mim sabendo que não vingaria???? Era tão horrível aquela situação. Estava vivendo de novo toda aquela angústia.

Depois que descobrimos a HDC do João Pedro, eu tinha o sentimento de estar carregando dentro de mim uma criança que eu não sabia se sobreviveria, mas desta vez era diferente, eu estava carregando uma criança que era certo que não sobreviveria. Isso era horrível, eu estava e não estava grávida ao mesmo tempo. Sabia que não teria aquele bebê, mas continuava enjoando, vomitando e com tonturas. Era horrível.

Fui trabalhar na outra semana. Só meu chefe e um colega que sabiam, mas quando retornei, todos me perguntaram o que tinha acontecido que eu tinha desparecido na semana anterior. Contei pras pessoas que estavam na sala e pedi discrição. Não queria que aquele assunto se espalhasse pela empresa. Pensa bem, eu tinha acabado de retornar de licença maternidade, e ter uma bomba dessas rolando pelos corredores não seria legal.

Tentei seguir meu trabalho normalmente. Não estava fácil. Tinha acabado de retornar, tinha me mudado no final de semana, tinha recebido a notícia do aborto e tinha pela frente o casamento. Era muita informação pra mim, parecia que eu ia ficar louca.

Chegou então a quinta-feira, dia que eu teria eco e consulta novamente. Eu ainda tinha uma pontinha de esperança de tudo aquilo ser um grande engano, mas a médica que fez o exame foi categórica: “é, infelizmente, a gestação não evoluiu”. Fazer o que né??? Não tinha o que pudesse ser feito. Fui no  meu médico e a preocupação dele era em como eu estava emocionalmente.

Ele explicou que tudo isso que aconteceu é normal. Acontece em 80% das gestações até a 12ª semana. Ele me explicou que na maioria das vezes os abortos são sem motivo significante, e que no meu caso, não haveria motivo para investigação, já que todos os meus exames clínicos eram normais. Este caso era um aborto retido, o corpo não expeliu naturalmente. Então o médico me perguntou se eu queria continuar ESPERANDO até que saísse sozinho ou se eu queria fazer a curetagem. Naquele momento fiz uma viagem no tempo. Decidir aquilo foi igual ao momento em que tive que decidir se cremava ou se enterrava o João Pedro. Foi horrível reviver tudo aquilo. Era mais um filho que eu tinha que me desfazer. Optei pela curetagem, não aguentava mais viver daquele jeito. O médico me perguntou se eu tinha disponibilidade no próximo sábado por voltas das 18 horas e então respondi “sábado às 18 horas nós vamos estar entrando na igreja pra nos casar”. O médico ficou surpreso, não imagina mais esse detalhe.

Não quis fazer antes do casamento, pois eu não sabia como seria o procedimento, se eu teria dor, muito sangramento... sei lá. Então decidi que tentaria controlar meu emocional e faria tudo depois. Agendamos o procedimento pra dia 24 de maio, terça-feira da semana seguinte.

Neste intervalo, eu quis ir no centro espírita, conversar com a Dona Gilda e buscar uma orientação. Chegando lá, contei a ela tudo que estava acontecendo e ela me olhou com um olhar de quem já sabia de tudo e me disse “é, pode ser ele tentando voltar. Mas como ele ainda não está pronto, preferiu retornar pra não causar maiores problemas lá na frente”.

Ouvir aquilo foi uma coisa muito estranha. Ela estava me dizendo que poderia ser o João Pedro retornando. Um tempo atrás uma amiga tinha me contado sobre um sonho que ela teve que dizia que o JP voltaria no final do ano. Se aquela gestação fosse adiante o parto aconteceria em 20 de dezembro. Meu Deus, era muita “coincidência”. Saber que aquele espírito que tentou ficar comigo poderia ser novamente o espírito do JP foi desolador e ao mesmo tempo consolador. Desolador pelo fato de pensar que de novo não conseguimos ficar juntos, mas consolador quando eu pensava que a nossa história não estava acabada e que ainda teríamos algo a viver juntos.

A Dona Gilda me perguntou se eu já tinha lido o livro “Nossos Filhos são Espíritos”, do autor Hermínio C. Miranda, e casualmente eu já tinha lido mesmo. Lá explica sobre o termo “meia volta no útero”, que é quando o espírito resolve voltar pra não ser pior mais adiante. Isso explica os casos de aborto retido. Encontrei um link que dá uma sinopse do livro, se alguém se interessar...

Tentei buscar meios para ficar bem até passar o casamento, e acreditar que o JP teria voltado foi o meio que mais me deu forças. Só quem é mãe pra entender o que é o amor de mãe pra filho, independente do plano em que se esteja. Eu amo o João Pedro com todas as minhas forças, e pensar que ele pudesse ter tentado voltar pra mim era coisa mais alentadora que tinha para o momento.

Passamos então pelo final de semana do casamento, foi lindo como contei no post anterior. Tinha uma força superior que me dava motivação pra estar feliz. Tentei não pensar naquilo que estava acontecendo de ruim. Tentei me focar apenas no momento do casamento, na minha relação com o Amaral, na proximidade que precisaríamos ter cada vez mais. Conseguimos, passamos por aquele final de semana. Com certeza não foi como gostaríamos, mas dentro do possível, foi muito bonito.

Chegou então o dia do procedimento. Fui pro hospital Moinhos de Ventos lá pelas 11 horas da manhã como meu médico pediu. Lá me receberam, me encaminharam pra uma sala pré-operatória e me deixaram aguardando até conseguirem reservar a sala para o procedimento. Meu médico disse que seria por volta das 17hs, mas já era 14hs e ninguém vinha falar comigo. Disse então pro Amaral ir almoçar, porque pelo jeito iria demorar. Logo que o Amaral saiu veio a médica pra introduzir os comprimidos que fariam meu colo do útero abrir. Foram inseridos dois, pra fazer efeito mais rápido, pois o procedimento seria em poucas horas.

Foi um dos piores momentos. Eu estava ali sozinha, sem o Amaral pra pelo menos segurar a minha mão. Senti como se estivessem matando o meu bebê. Depois de introduzir os comprimidos me deu uma crise de choro, um desespero, pois agora estava certo, não tinha mais volta. Eu tinha só que ESPERAR, ESPERAR e ESPERAR...

Um tempinho depois a médica voltou e me disse que tiveram que remarcar, pois a sala de cirurgia estaria ocupada naquele horário, então foi marcado pras 21 horas. Passei praticamente o dia inteiro no hospital, ESPERANDO o momento do procedimento. O tempo se arrastou até lá, e enquanto isso eu ia sentindo cólicas horríveis, as piores que já senti em toda minha vida. Pedi medicação. Me deram remédio na veia e oral. A dor era tanta que eu me torcia na cama. Já não estava mais aguentando e o que eu mais queria era acabar com aquilo tudo.

A psicóloga do hospital foi conversar comigo. Ela já tinha nos acompanhado durante o processo do JP e estava ali novamente pra tentar me ajudar, mas naquela hora, nada poderia acalmar.

Meu médico chegou e foi direto saber como eu estava. Conversou um pouco comigo e pediu que me levassem pra sala de operação. Lá estavam duas enfermeiras e o anestesista, que foi o mesmo que participou do parto do JP. A equipe que se envolveu desta vez foi praticamente a mesma da outra vez, e todos estavam muito sensibilizados com tudo que se passara nesses últimos 6 meses. Quando o anestesista conversou com o Amaral ele disse “espero que a próxima vez que nos encontramos seja em um momento de alegria”. Até os médicos estavam tristes.

O procedimento em si foi tranquilo. Durou menos de 30 minutos e eu me recuperei rápido da anestesia. Não aguentava mais estar dentro do hospital. Tudo aquilo me causava angústia, e eu não via a hora de ir pra casa. Saí do hospital meia noite e fui direto pra casa da minha mãe. Pois como minha nova casa estava em reforma, não queria ter que ficar em casa naquela situação e ainda ter que ficar atendendo o pedreiro. Mais isso ainda pra ter que suportar: obras em casa...

No dia seguinte o Amaral não foi trabalhar pra ficar comigo. Ficamos na casa da minha mãe pois eu tinha ainda um pouco de cólicas. Com o passar dos dias as cólicas e o sangramento iam diminuindo e eu pude retomar a minha vida “normalmente”.

O sentimento de fracasso, de perda e de tristeza era enorme, mas acreditar que aquele era o espírito do João Pedro tentando voltar pra mim era o que tornava os meus dias menos desesperadores. O difícil foi controlar o depois....

segunda-feira, 11 de julho de 2011

Um momento para comemorar

Depois da passagem do João Pedro pela nossa vida, eu tive muitos momentos de altos e baixos, na verdade ainda tenho, mas hoje tenho conseguido controlar melhor meus sentimentos.

Um dia, lá no início do ano, sonhei com o João Pedro e me acordei com uma sensação muito boa, uma sensação de paz, felicidade, uma coisa boa que me dizia que eu tinha muitas coisas boas na vida e que tinha que comemorar. Conversei com o Amaral sobre isso e chegamos à conclusão de que deveríamos comemorar o nosso casamento.

Nós nos casamos em fevereiro de 2006, apenas no civil, e neste ano completamos 5 anos de união.  Diante de tudo que se passou, optamos em não apenas “comemorar” nosso casamento... Decidimos nos casar na igreja.

Que mulher não sonha com esse momento??? Mesmo não sendo como eu sonhava há alguns anos atrás, ainda assim estaria realizando um sonho.

Fomos então até a igreja conversar com o padre pra saber se ele aceitava fazer a cerimônia. O Padre Adilson sempre foi conhecido por ser muito rígido, então pensamos que talvez ele não fosse aceitar, visto que nós já vivíamos juntos há bastante tempo. Só que pra nossa surpresa, quando falamos com ele, ele ficou tão feliz, tão emocionado, que pulava de alegria.  Não só ele aceitou fazer nosso casamento como nos deu de presente a decoração da igreja.

Marcamos a data para 21 de maio deste ano, então tínhamos tempo de nos organizar.

Quando decidimos fazer nosso casamento no religioso, optamos por não fazer festa. A idéia era apenas receber as bençãos de Deus e reunir nossos verdadeiros amigos (aqueles que estiveram conosco no momento mais difícil da nossa vida) em um momento de alegria. Sentia vontade de retribuir o carinho dos nossos amigos e pensamos que esta seria uma boa maneira. Então faríamos apenas um coquetel e um bolo.

Algumas pessoas me perguntaram “e tu resolveu casar mesmo depois de tudo isso que aconteceu?”. Impressionante como as pessoas gostam de julgar né????

O objetivo deste casamento era muito mais do que simplesmente ter uma festa... precisávamos de um encontro com Deus, uma benção. As pessoas costumam dizer “bem casado é quem bem vive”. Concordo. Mas nesse momento, precisávamos dessa benção. Eu precisava ter momentos de alegria pra amenizar os momentos de sofrimento.

Nas semanas que antecederam o casamento meus sentimentos se conflitavam o tempo todo. Eu estava feliz por este momento maravilhoso que estava acontecendo em minha vida, mas ao mesmo tempo estava triste, sentindo um vazio por dentro, como se o meu coração não estivesse presente.

Eu e o Amaral sempre dizíamos que quando tivéssemos nossos filhos, nós nos casaríamos na igreja e eles entrariam com nossas alianças. Foi muito difícil pra mim, saber que nós tínhamos um filho, mas que ele não podia entrar levando nossas alianças. Minha cabeça ficou muito confusa neste período. Era toda essa bagunça de sentimentos, fora outros acontecimentos que contarei em posts mais adiante.

Mas independente deste misto de sentimentos, eu sentia muita vontade de realizar esse casamento e comemorar. Mas como????

Quando começamos a contar pros nossos amigos, todos ficaram muito felizes. Felizes de verdade, pois eu via a emoção no olhar das pessoas quando falamos do assunto. E acabava que todo mundo perguntava da festa. Aí quando diziamos que não faríamos festa vinha aquela frase de decepção “ah não, tem que ter uma festa”.

Não tínhamos como fazer uma festa. Pra isso precisavamos de dinheiro, e nós não tínhamos recursos destinados pra esse fim, afinal, decidimos tudo de última hora, sem grandes preparações. Então começamos a pensar em como poderíamos fazer algo que não custasse caro. Já que o principal objetivo era a cerimônia, o resto era secundário, então poderia ser tudo do jeito mais simples.

Nós não queríamos presentes, mas nossos amigos insistiam. Muitos nos presentearam com coisas para a festa: ganhamos o bolo, o DJ, o tapete vermelho, parte do chopp e do buffet, ganhamos até bem casados pra dar de lembrancinha...

Não mandei fazer convites. Eu mesma fiz no computador e imprimi. 

Não aluguei vestido, pois são caríssimos. Comprei um tecido simples e levei em uma costureira para que ela fizesse um modelo básico. Gastei uma mixaria com meu vestido e o da minha daminha.

Fui olhar preços de decoração e tudo era muito carro, então, como sou dada a esse tipo de coisa, comprei  o material necessário e fiz tudo, desde os arranjos de mesa até a decoração do salão. Tive grandes ajudas: minhas cunhadas, nossos padrinhos, nossos compadres... todos estavam no salão ajudando a montar as coisas.  Tudo foi da maior simplicidade possível, mas ficou tudo muito lindo e nossos amigos adoraram.

Chegou o dia do casamento e todos estavam ansiosos. A cerimônia foi na igreja Nossa Senhora da Conceição, no centro de Sapucaia do Sul. Lá as missas são lindas, não tinha dúvidas que o casamento também seria.

Foi um casamento tradicional: teve padrinho atrasado, padrinho que quase não chegou porque ficou preso no trabalho, convidados que chegaram super cedo com medo de perder hora, convidados que chegaram super tarde e perderam a cerimônia, ou seja, foi tudo dentro do que é esperado pra um casamento.

Entrei na igreja com a tradicional marcha nupcial e sem dúvidas que meus olhos já estavam em lágrimas. Olhava pros lados e via nossos amigos lá, também emocionados e não tinha como não passar um filme na minha cabeça.

Nossa daminha e nosso pajen (que eram os nossos sobrinhos/afilhados) estavam lindos. Ela entrou com um buquesinho de flores igual ao meu e ele entrou carregando uma imagem de santo Antônio, onde aos pés do santo estavam as nossas alianças. Somos devotos de Santo Antônio por vários motivos, não só pela tradição de ser o santo casamenteiro. Em outros posts comento mais sobre isso.

O caminho da porta da igreja até o altar parecia longo, não chegava nunca, mas quando olhei pro altar e vi o Amaral lá em cima, não pude segurar e acabei desabando. Quando ele veio até meu encontro, me olhou e disse “tu ta linda”. Borrei toda maquiagem, fiquei parecendo um urso panda com os olhos pretos de tanto que chorei.

A cerimônia seguiu linda, o padre falou coisas belíssimas a nosso respeito. Disse que estava muito feliz por nós estarmos ali mesmo depois já termos uma vida conjugal e de já termos passado por tantas dificuldades. No encerramento da cerimônia, não teve quem não se emocionou quando o padre comentou que a igreja estava lotada, e que isso era a prova de que nós já éramos abençoados, pois tínhamos amigos na terra e um anjo no céu. Só de escrever isso me emociono e meus olhos enchem de lágrimas. Até o padre chorou.

Cerimônia foi realmente linda e muito emocionante, mas ainda sobraram emoções pra hora da festa.

Quando chegamos ao local da festa, todos já estavam nos aguardando. Assim que entramos, agradecemos a presença de todos, pois cada um que estava ali tem um papel importante em nossa vida. Todos ficaram muito emocionados.

A festa seguiu... jantamos, tiramos fotos, dançamos e na hora do brinde e do bolo eu resolvi fazer uma surpresa. Decidi de última hora que eu ia cantar pro Amaral. Só que minha voz é péssima e sozinha eu sabia que ficaria horrível, então chamei todos os convidados pra cantarem comigo e comecei: “eu tenho tanto, pra lhe falar, mas com palavras, não sei dizer, como é grande o meu amor por você...” Me envolvi tanto na emoção daquele momento que acho que parei de cantar no microfone e acabei cantando só pro Amaral, mas quando me dei conta, eu ouvia vozes baixinhas dos nossos amigos cantarolando junto. Foi tão lindo...

Quando acabou a música, olhei pras mesas e estavam todos com os olhos em lágrimas em um clima tão romântico. Acredito que esse foi o momento mais lindo da festa, era um clima de amor tão grande, uma energia tão boa que contaminou todo  mundo.  Duvido que os casais não sairam dali se amando pelo menos um pouquinho mais.

Depois disso, ainda seguimos a festa. Todos estavam muito felizes e contentes com aquele momento.
Teria sido mais que perfeito se não tivessemos tido uns imprevistos durante os preparativos...


Vejam algumas fotos