Meu Deus, como é difícil.
Quando eu pensava que os sentimentos estavam administrados.... aí é que eu me engano.
Eu sabia que a chegada do final do ano traria a tona as minhas emoções, só que eu não pensava que seria pra tanto. Num momento em que meu psicólogo já estava até planejando minha alta, regrido e preciso cada vez mais de apoio emocional e espiritual.
Está insuportável viver. Parece que o mundo está desabando na minha cabeça e eu não consigo fazer nada pra mudar. Não posso perder o controle, mas está cada dia mais difícil conseguir mantê-lo.
Vivo atormentada pelas imagens tristes do que vivi. Borbulham sobre meus pensamentos a cena em que recebemos a notícia que ele não tinha sobrevivido, do nada vejo ele dentro do caixão, ouço os apitos dos equipamentos que ficavam presos a ele lá na Neo, sinto o cheirinho do sabonete que usaram pra limpar ele e morro de saudade. Estou caminhando na rua e de repente lembro da hora que tiveram que fechar o caixão, quando estou andando de carro, de repente me vejo como se estivesse seguindo o cortejo fúnebre, quando vejo uma caminhonete preta então... parece que ele está lá dentro.
É horrível, não agüento mais. Estou sendo perseguida por pensamentos e lembranças que eu gostaria de esquecer. Não sei mais o que fazer e não quero prejudicar e atrapalhar as pessoas ao meu redor.
Me sinto pressionada a fingir uma felicidade que não existe. Tenho que mostrar que estou bem pra que as pessoas “pensem” que eu estou bem, em contrapartida, sou cobrada por isso.
Estou cansada... cansada de ouvir que tenho que ser forte, que Deus tem um plano maravilhoso pra mim, que isso vai passar.... Vai passar quando???? Não passou um dia sequer sem que eu pensasse em tudo o que aconteceu, sem que eu lamentasse “porque teve que ser assim?” ou “o que eu fiz pra merecer isso?”.
Não bastasse isso, tenho que ouvir comentários sem noção de pessoas sem noção que ficam esfregando na minha “eu tenho, você não te-em”. Chega... não agüento mais.
A dor da saudade é insuportável. Uma saudade que eu nem sei do que, porque não tive tempo de viver momentos de felicidade com ele ao meu lado. Só tenho lembranças tristes de tudo e isso está me corroendo.
Ver casais com bebês sempre me faz pensar “podíamos ser nós”, ver mulheres grávidas me faz pensar “poxa, eu podia estar ganhando outro filho”... é... se a segunda gestação tivesse dado certo, eu já estaria ganhando o bebê. Mas cá estou eu, sem filho, sem barrigão, sem planos, sem expectativa.
Não tenho inveja de ninguém, graças a Deus esse é um sentimento que não tenho. Apenas lamento que eu também podia estar em mesma situação se não tivesse acontecido tudo isso.
Semana que vem o João Pedro faria 1 ano. Meu Deus, um ano já, e eu não tenho uma festinha de aniversário pra organizar, não tenho que distribuir convites, ver fotógrafo, decoração, comes e bebes.
Não tenho outro filho aqui na minha barriga pra escolher nome, esperar por ele ansiosa, decorar o quartinho, fazer chá de bebê , comprar roupinhas.
Não tenho.... eu não tenho nada do que planejei e desejei e ainda por cima tenho que viver esse tormento, esse vulcão de lembranças que surgem na minha cabeça e que estão me enlouquecendo.
Cheguei até aqui e quando olho pra trás vejo que até consegui passar o ano muito que bem, só que agora, nesta última semana, parece que o sofrimento de um ano inteiro está acumulado dentro do meu coração.
Logo chega Natal, e eu tenho mais uma vez que passar sem um filho nos braços. Isso dói, dói de mais.
Não sei se eu devia escrever isso tudo aqui... hoje não estou em um dia muito bom. Queria, dormir e acordar só ano que vem, queria sumir do mundo, queria morrer...
Mesmo tendo recebido aquele recado maravilhoso semana passada, nem isso está me fazendo conseguir suportar.
Ele, eu sei que está bem, que está feliz onde está, pois ele mesmo mandou avisar isso, mas eu, ahhh eu não sei mais nada sobre mim....