domingo, 17 de junho de 2012

Sentimento de mãe de anjo


Oi pessoal....

Hoje resolvi escrever sobre um assunto muito vivido por nós, mães de anjos. Será que um dia essa dor vai passar????

Pois é, essa pergunta eu me faço todos os dias e não encontro resposta. Será que passa? Será que só ameniza? Ou será que continuamos sentindo, porém nos acostumamos com ela???

Pois bem, das mães de anjo que tenho contato, eu sou a que já vive esse dilema há mais tempo.  Através do blog e do grupo de HDC no facebook comecei a me relacionar com algumas virtualmente, e muitas vezes me envolvi ao ponto de chorar e sofrer a perda junto com elas.

Hoje, mais vivida e calejada dessa dor, consigo controlar os sentimentos e não sofrer tanto, até mesmo porque não estou mais tão ativa no grupo por conta dos compromissos do dia a dia. Porém tenho visto os comentários, frases e pensamentos que as amigas mães de anjos postam em suas redes sociais e vejo que não fui só eu que pensei assim, mas que todas nós pensamos e desejamos muito ter outro filho.

Lembro que logo que tudo aconteceu, tive que ir ao meu trabalho levar uns documentos e uma (agora ex) colega me perguntou com todas as letras “e tu vai ter coragem de tentar de novo?” Meu Deus, quando ela me perguntou isso tive vontade de metralhar a cara dela. Ora... Que mãe vai desistir do sonho de ter um filho??? Tudo o que eu mais queria era outro bebê, e logo. Não pra substituir o João Pedro, por que isso é impossível, mas sim pra ter um motivo de alegria e acalentar meu coração.

Tanto eu quis, que fiz. Quatro meses depois eu já estava grávida novamente, porém de novo, tivemos uma fatalidade, e desta vez a gestação foi interrompida. Situações diferentes, mas sofrimentos iguais. Por causa disso eu desisti de tentar??? Não, nunca vou desistir, porém preferi me estabilizar emocionalmente e deixar meu corpo se recuperar, para um dia eu estar totalmente bem pra tentar novamente.

Já faz 1 ano e meio que o João Pedro não está mais conosco, e já faz mais de 1 ano que tivemos a segunda fatalidade,  porém ainda não quis tentar novamente, mas o fato de eu não estar tentando, não significa que eu não queira. Quero sim, e quero muito, porém são vários fatores que envolvem um planejamento familiar.

Hoje eu me sinto totalmente recuperada e preparada para uma nova tentativa, mas isso também não quer dizer que eu não sofra mais e não sinta falta de ter um filho. Respondendo às perguntas que iniciaram este post, tem resposta pra todas: tem dias que sofro, que dói de mais, que a falta que meu filho faz causa um buraco sem tamanho no meu peito, mas confesso que com o passar dos dias, esse sentimento tem se dissipado, foi amenizando até que acostumou. Essa dor que eu vivi, me tornou uma pessoa forte, que as vezes até me confundo se estou mais forte, ou se me tornei insensível. Assisti ao filme “As mães de Chico Xavier” e não derramei uma lágrima. Se tivesse assistido logo no início, ou até mesmo antes de tudo acontecer, certamente teria me acabado de tanto chorar, e como já sabia disso, esperei o momento certo. Sempre fui muito chorona, mas agora, não é qualquer coisa que me faz chorar.

Mas uma coisa que me chateia e me faz chorar é não ser considerada mãe. Vivi uma situação assim no dia das mães, que acredito, que chorei mais de decepção do que qualquer outra coisa. Não fui considerada mãe, pelo simples fato de eu não estar com meu filho nos braços, pelo fato de meu nome não constar em uma lista de pessoas com dependentes. Me perguntei: “se minha mãe morrer eu vou deixar de ser filha?” Não.... então não é porque meu filho morreu que eu deixei de ser mãe. 

Nessa mesma ocasião, ouvi de uma pessoa que “tentou” (só tentou, por que não conseguiu) me agradar o seguinte comentário: “tu FOI mãe”. Não... eu não FUI mãe, eu SOU mãe. Não é porque meu filho não vive comigo que eu deixei de ser mãe dele. 

Então amigas, se vocês compartilham desse sentimento, saibam que não estão sozinhas. Bem provável que todas nós vivemos isso. Àquelas que se perguntam se isso um dia vai passar, eu relato a minha experiência: Passar não passa, mas a gente aprende a lidar com a situação. Depende só da gente ter força e coragem para encarar. E àquelas que, assim como eu, desejam tentar novamente, eu recomendo que não se preocupem com o tempo, em tentar o mais rápido possível. Se preocupem em estarem bem, fortes e preparadas para receber um novo anjo em suas vidas, pois a criança que vir, precisa ser recebida em um lar saudável e ter todas as atenções voltadas a si, e para isso, nós mamães precisamos estar com o corpo e a mente sãs. Deus sabe o tempo certo de cada uma de nós, e se ele ainda não mandou um bebê a quem está tentando, é porque certamente ainda não é o melhor momento. 

Faça acontecer esse melhor momento!

Aproveitando o post de hoje, reafirmo alguns pensamentos:
  • Não é porque meu filho morreu que eu deixei de ser mãe.
  • Não é porque eu não esteja tentando, que eu não queira.
  • Não é porque eu vivo sorrindo, que eu deixei de sentir falta dele.
  • Não é porque eu choro de vez em quando, que eu esteja sofrendo.
  • Não é porque não tenho mais fisicamente o meu filho, que preciso ser infeliz!

Boa noite e boa semana a todos!

sexta-feira, 8 de junho de 2012

De volta ao blog:: Genético x Congênito


Ahhhh escrever... que saudade que eu tava de escrever pro blog... Já faz um bom tempo que eu não escrevia pro blog, não por vontade própria, mas por falta de tempo. Claro que eu tinha sim uns momentinhos de descanso, mas nesses momentos eu estava sempre tão cansada que a última coisa que queria ver na frente era um computador.

Me envolvi num projeto muito importante no trabalho e isso tomou toda a minha atenção. Tomei essa oportunidade que me deram como um desafio, um desafio que atestaria de vez se eu realmente tinha ativado 100% meu lado profissional. E para minha grata surpresa, esse meu lado voltou com muita força e muito melhor do que era antes. Estar conduzindo esse projeto foi uma forma de me reafirmar, depois que tudo que eu passei, que sou sim capaz de me refazer em todos os pontos da minha vida. Fiquei muito feliz com isso.

Entreguei esse projeto esta semana e com isso ganhei uns dias de folga, coisa boa, porque ta um frio terrível pra levantar cedo e ir trabalhar hehe. Bem provável que logo cairei de cabeça em outro, mas enquanto isso, aproveito pra fazer aquilo que eu estava sentindo a maior falta, que era escrever pro blog e me atualizar com as postagem do grupo de HérniaDiafragmática Congênita que participo no facebook.

Essa semana saiu uma polêmica no nosso grupo que foi se HDC é ou não derivada de fator genético. Nossa, isso deu tanta discução, que teve gente que não entendeu a idéia e acabou se revoltando.
Primeiro que a idéia deste grupo é ajudar as famílias atingidas por este problema, além trocar idéias e informações que possam ser úteis tanto a quem tem seus querubins sobreviventes, quanto às mamães de anjos. Toda a discução surgiu porque no site da revista Pais&Filhos, onde saiu a minha reportagem sobre o João Pedro e a HDC  (falei sobre essa reportagem aqui), uma mamãe postou o seguinte:



Só que ela postou isso em janeiro, e só agora eu fui ver. Então comentei com a Débie (veja o blog dela aqui), que está tomando a frente no grupo para que ela divulgasse isso lá como forma de alerta a todas que desejam tentar novamente.

Confesso que fiquei surpresa com o que essa mãe escreveu, nunca tinha ouvido falar de repetir esse problema em irmãos e isso me preocupou. Tudo que recebi de informações dos médicos a respeito do assunto, é que não há comprovação de HDC ser genético, mas pelo visto também não há comprovação de que não possa ser. O que meu médico me deixou claro, foi que existem problemas genéticos que contribuem para a formação da HDC, mas que ela acontecendo sozinha, sem incidência de outra má formação, não caracteriza ser genético. É meio confuso, eu sei, mas da forma que o médico me explicou eu entendi o que ele quis dizer. Nossa amiga Ana Cleice, que também participa do grupo e também tem um blog contando como sua filhota luta com essa problema até hoje (conheça o blog dela aqui), nos deu uma definição que achei bem fácil de entender:



Enfim, HDC continua sendo um mistério. E enquanto isso, ela continua assombrando as famílias e levando o bem mais precioso dos pais.

Eu e o Amaral pensamos sim em retomar a tentativa de ter filhos e há algum tempo viemos conversando sobre isso. Não temos época prevista pra tentar, mas quando isso for acontecer, quero estar cercada de todas as informações, por isso (antes mesmo de toda essa polêmica), consultamos uma geneticista pra esclarecer algumas coisas. Só o fato de termos tido um bebê com HDC e mais uma gestação interrompida, nos coloca em situação de realização do exame de cariótipo. Esse exame visa analisar a quantidade e a estrutura dos cromossomos em uma célula. Nossas células são normalmente formadas por 23 pares de cromossomos (portanto 46 cromossomos). Um cromossomo é uma longa seqüência de DNA, que contém vários genes, com informações sobre as funções específicas nas células dos seres vivos. No caso de mães que tiveram bebês com HDC, acho importantíssima a realização deste exame, pois em relação à esta doença, a única certeza é a incerteza. 

Tá, mas aí me pergunto: esse exame detecta todos os tipos de doenças genéticas? Encontrei uma definição simples, que me foi muito esclarecedora:

“Não, o cariótipo analisa apenas os cromossomos. As doenças que estão localizadas nos genes fetais ou pequenos rearranjos e deleções não podem ser identificados no cariótipo. Para ficar um pouco mais fácil de entender vamos fazer uma comparação: imagine que nosso material genético é uma biblioteca, onde existem diversos livros (os cromossomos) e dentro destes livros nós temos os capítulos (que seriam as bandas dos cromossomos) e dentro dos capítulos nós temos o texto, que é formado por um conjunto de palavras (que seriam os genes). O exame do cariótipo irá contar o número de livros e verificar ainda o número e ordem dos capítulos. Portanto se estiver faltando um livro ou se houver uma alteração na ordem dos capítulos poderemos saber pelo cariótipo. Entretanto o cariótipo não irá fazer uma análise de todas as palavras e portanto se houver uma palavra faltando ou escrita errada isto não será visto pelo cariótipo”. Fonte: http://www.fetalmed.net/item/cariotipo.html
 
Ou seja, mesmo investigando tudo que está no nosso alcance, ainda há uma possibilidade de não aparecer num exame. É aí que, na minha opinião, entra o fator Deus. Se fizermos de tudo o possível, darmos todas as condições e tivermos todos os exames favoráveis, e ainda assim acontecer um problema, É POR QUE TINHA QUE ACONTECER. Pela minha crença isso é muito simples de entender, mas.... quem é que aceita isso tão fácil? Mesmo estando ciente que tudo é possível, não é tão simples assim aceitar os fatos.

Fizemos o exame e  resultado sai só em julho. Só agora me senti preparada pra fazer esse exame, pois o resultado dele pode mudar a direção das minhas escolhas. O meio que vamos usar para termos filhos é indiferente em relação ao tamanho da nossa vontade.