sábado, 24 de setembro de 2011

Ele sempre está presente


Hoje é sábado, estamos no meio de uma bagunça da obra, o Amaral está pintando o lugar onde essa noite passará a ser o nosso quarto, mas mesmo assim sobrou um tempinho pra receber uma visitinha: Minha amiga Fabi e a sua filhinha Camila, que é nossa afilhada.

A Camila vai fazer 4 anos mês que vem, mas de vez em quando ela me sai com umas de adulto.

Outro dia a Fabi me contou que estavam no quarto e a Camila disse “ai mãe, que saudade do João Pedro”, e a Fabi se espantou com isso e perguntou “qual filha, o da escolhinha?” e a Camila respondeu “não mãe, o João Pedro da minha dinda”. Aí a Fabi disse que se emocionou, pois não imagina como a Camila pode sentir saudade de alguém que ela nem conheceu. Ela é só uma criança e não entende direito o que aconteceu, mas mesmo assim sente saudade.

A Fabi disse que conversou com ela na ocasião e explicou que hoje ele morava no céu. Aí a Camila disse que se ele tivesse ali, ela ia querer brincar com ele, ela pulava na cama dizia que era assim que ela ia fazer. A Fabi explicou que daquele jeito que ela tava fazendo não daria, porque ele era pequeninho, então a Camila diminuía a intensidade dos movimentos e perguntava “e assim pode mãe?”. A Fabi disse que a Camila fazia uma bagunça em cima da cama, imitando como ela faria com o João Pedro. Quando ela me contou isso, não pude deixar de me emocionar.

Hoje, quando elas chegaram aqui em casa, o único lugar possível de sentarmos para conversar era em cima da cama, visto que o resto está tudo bagunçado. E assim que entramos no quarto a Camila já perguntou se podia tirar o sapato e ficar em cima da cama. Claro, que podia. Ela ficou deitadinha por um tempo e logo foi no ouvido da Fabi e perguntou se podia pular, e a Fabi não queria deixar, mas eu disse que podia. Não me importo e nunca me importei com isso. Acho mesmo que criança tem que fazer bagunça. Eu adorava pular na cama da minha avó e ficava triste quando ela não deixava. Então na casa da dinda pode tudo...

A Camila começou a pular e ficava eufórica. Logo estávamos todos bagunçando no quarto. De vez em quando o Amaral largava a pintura e vinha bagunçar na cama com a gente. Virou uma farra. A gente rolava, pulava, fazia cosquinha, e ouvir as gargalhadas da Camila era o melhor som que eu podia ouvir. Uma hora, quando parei pra descansar, me lembrei do que a Fabi havia me contado, e me bateu uma nostalgia, pensando que o João Pedro poderia estar ali brincando com a gente. Estávamos fazendo exatamente aquilo que  Camila disse que queria fazer com ele.

Dei um jeito de disfarçar, pra não entristecer, a final, estávamos aproveitando um momento tão feliz com a nossa afilhada....

Depois de uma tempo as duas foram embora e eu e o Amaral seguimos na nossa bagunça. Lá pelas tantas a Fabi me liga pra me contar mais uma da dona Camila. A Fabi disse que chegaram em casa e ela deu um banho na Camila e quando estava penteando os cabelinhos dela, a Camila olhou pro céu e atirou um beijinho. A Fabi perguntou pra quem ela tava manando beijo e ela disse “Mãe, mandei um beijo pro papai do céu e pro João Pedro”. Nossa, enquanto a Fabi ia falando eu ia me arrepiando e não segurei as lágrimas.

Como não pensar que ele não estava aproveitando aquele momento de alegria com agente??? Vai saber se aquele beijinho que a Camila jogou, não era o “tchau” que ela estava dando? A crianças são muito sensitivas e percebem mais fácil as vibrações do plano astral.

Querida... A Camila é um anjinho como ele, e mesmo sem ter podido conhecer, ela sente carinho por ele. Já postei no blog do João Pedro uma vez, logo que tudo aconteceu, eu dei de presente pra ela uma mola-maluca, e quando eu entreguei ela me disse “sabia dinda que eu tenho um primo que também brinca com isso? só que ele mora lá no céu”. A gente sempre dizia que ensinaria os dois a se chamar de primos. E quando eu estava grávida e minha barriga mexia, eu dizia pra Camila que o priminho dela estava se mexendo. Como duvidar da relação espiritual desses dois??? São dois anjinhos especiais.

Depois que a Fabi me falou isso, desliguei o telefone e entrei no quarto. Liguei a TV e estava dando o Caldeirão, e a prova do Lata Velha era cantar a música Pais e Filhos do Legião. Amo essa música, e nesse momento emotivo, a letra dela me pegou...

A começar pelo nome da música Pais e Filhos (mesmo nome da revista em que saiu a reportagem do João Pedro)
“Meu filho vai ter, nome de santo... quero no nome mais bonito” (São JOÃO / São PEDRO)

Pra quem é descrente, tudo isso é apenas coincidência. Mas para quem é espírita, isso são sinais... sinais de que quando há amor, os laços não se rompem nunca...

“É preciso amar, as pessoas como se não houvesse amanhã. Porque se você parar pra pensar, na verdade não há.”

quarta-feira, 21 de setembro de 2011

A semana acabou

Enfim... a Semana Farroupilha acabou, e com ela acabou também uma grande angústia minha.

Já havia falado aqui no blog sobre meu envolvimento com o tradicionalismo. Ano passado, nesta época eu estava grávida e cheia de expectativas pro nascimento do meu filho, que seria só em janeiro. Todos o nossos conhecidos que me viam vinham perguntar do bebê, queriam saber o que era e sempre falávamos que no próximo ano ele estaria lá no acampamento com a gente usando sua bombachinha. Só que infelizmente não foi isso que aconteceu.

Chegou então a Semana Farroupilha deste ano. Como esse evento acontece apenas uma vez no ano, muitas pessoas que conheço vejo apenas nessa época, então eu estava muito apreensiva em como seria quando as essas pessoas viessem me perguntar sobre como meu bebê estava. Tinha certeza que muita gente não sabia de nada e deixariam escapar um “e como tá teu nenê?”

Semana passada aconteceu algo parecido quando fui à confeitaria na esquina do meu trabalho. Cheguei no caixa pra pagar e a menina me perguntou “e teu nenê, como vai?” Eu gelei. Como ela podia saber que eu tive um bebê se nunca estive ali enquanto estava grávida e nunca falei sobre esse assunto na confeitaria???? Respondi pra ela sem dar muita bola “eu não tenho nenê”, e eis que ela insiste “ah, ele já deve tá grandinho né, quantos aninhos ele tem?”. Pensei que ela só podia estar me confundindo com alguém. Insisti pra menina dizendo que eu não tinha filhos e então ela me pergunta “mas e aquele da fotinho na tua carteira?” Putz.... eu nunca falei nada pra ela, mas provavelmente alguma vez que fui pagar a conta ela reparou na fotinho que tenho do dia do nascimento dele.

Eu devo ter ficado de todas as cores possíveis e respondi pra ela apenas que eu tinha perdido meu bebê logo que nasceu e ela me desejou que eu tivesse outro logo. Apenas sorri, peguei minhas coisas e fugi dali meio zonza, perdida com tudo aquilo. Já fazia tempo que isso não acontecia e eu não esperava por isso. Na verdade no início as pessoas vinham me perguntar de curiosidade o que tinha acontecido, mas essa menina não sabia de nada, ela foi totalmente inocente querendo ser simpática e fazer um agrado.

Já pra Semana Farroupilha, eu meio que estava esperando que as pessoas me perguntassem, mas eu tinha medo de como eu acabaria lidando com isso, de ter que explicar e ficar justificando as coisas.

Então chegou o dia 13 de setembro, dia da abertura do evento na minha cidade. Estavamos saindo de casa, quando olhei pro céu e vi uma linda lua cheia iluminando a noite. Eu tenho uma “simpatia” pela lua cheia, pois já aconteceram várias situações em sonhos meus em que a lua e o João Pedro estão relacionados. Pra mim é como se ele usasse a lua cheia como um símbolo pra me mostrar que está presente. Coisas de mãe....

Saí de casa e quando vi a lua fiz uma oração por ele e disse em pensamento que se ele tivesse permissão, eu adoraria que ele estivesse indo passear com a gente. Não pude deixar de me emocionar, mas tentei disfarçar pro Amaral não perceber. Fomos buscar os nossos amigos inseparáveis (Vivi e Eder) e assim que a Vivi entrou no carro eu perguntei se ela tinha visto a lua, e ela com o olhar de que estava entendendo tudo, me disse sorrindo “eu percebi”. A Vivi era uma das dindas dele, e a nossa relação é muito mais que de amizade, somos como irmãs, muito ligadas uma à outra e percebemos tudo que está no ar.

Chegamos então no local onde era o evento. Meus pais já estavam lá acampados com o pessoal do piquete, e nós fomos direto pra lá com eles. Como tinha muita gente no parque, optamos por ficar no piquete o tempo todo, pra não precisar andar no meio daquela gentarada. Eu achei ótimo, assim eu não ficava tão a mostra e diminuía muito as chances de eu encontrar alguém que viesse me perguntar alguma coisa. Sei que a minha atitude não foi correta, que eu não devia querer me esconder, mas eu não queria ter que passar por essa situação.

Ficamos um tempão ali com o pessoal do piquete, lá todos já sabiam o que tinha acontecido e ninguém tocou no assunto. De vez em quando me vinha na memória situações do ano passado, me relembrava dos planos que tínhamos feito de estar como ele ali, das coisas que tínhamos conversado e me dei conta que o tempo passou muito rápido.

Mais tarde teria o show de abertura que era no palco principal. O cantor era o Daniel Torres, que canta músicas nativistas maravilhosamente bem. Quando deu a hora do show, eu convidei nossos amigos pra irmos lá pro palco pra assistir, e quando chegamos lá, o Daniel Torres já estava começando o show, e lembro apenas de ter ouvido ele falar que cantaria uma música que é sempre muito pedida: Guri.

Pronto, quando ele anunciou que cantaria essa música, eu já senti um frio na espinha. Quando eu estava grávida, o Amaral falava pertinho da minha barriga dizendo que quando o João Pedro nascesse ele queria muito poder dizer “saiu igualzito ao pai”. Pra quem é tradicionalista, sabe que essa música é como um hino, uma marca da tradição gaúcha e do orgulho de um pai em ter um filho homem e este honrar a tradição “igualzito ao pai”. O João Pedro era a cara do Amaral e da forma como pretendíamos educá-lo, possivelmente ele seria um tradicionalista também, nosso gauderiozinho. Lembro da primeira vez que ouvi essa música depois que tudo aconteceu, eu chorei muito, pois não tinha dado tempo do Amaral dizer isso pra ele.

Então começou aquela música, naquela voz maravilhosa, a noite estava linda iluminada por aquela grande lua cheia, tinha um clima muito forte e eu não suportei. Não consegui segurar as lágrimas, assim como não estou segurando agora escrevendo este post. O Amaral percebeu o que estava acontecendo e apenas me abraçou. Nossos amigos entenderam o motivo do meu choro, sem precisar eu falar nada, e apenas ficaram do nosso lado, em silêncio. Depois disso, o Amaral achou melhor irmos embora e eu aceitei na hora, pois não queria ficar ali chorando num lugar que era de festa. Pra mim não tinha dúvidas, todas aquela “coincidências” (a lua, a música, o clima...) eram sinais de que ele estava com a gente, mesmo que apenas no nosso coração.

Fiquei apreensiva, com receio de voltar nos outros dias da festa. Mas voltamos outras vezes e a cada dia, essa apreensão ia diminuindo até que percebi que esse era um receio bobo. É claro que as pessoas que não soubessem o que tinha acontecido e fossem me perguntar, não fariam isso por maldade, e quem já sabia, não tocaria nesse assunto tão delicado num local de festa. Tá certo que existem pessoas sem noção, mas não foi o caso.

Ninguém me perguntou nada, ninguém ficou me olhando com cara de pena, ninguém ficou cochichando enquanto eu passava, ninguém fez nada. Eu é que tinha enfiado um medo na minha cabeça e estava me bloqueando por isso. Pelo menos passou. Com certeza não foi como eu esperava, mas dentro do possível, foi muito boa a comemoração da semana mais gaúcha dos Gaúchos.

Passei por mais essa, e saí ilesa, apenas com as marcas da saudade, que essa, vai ser eterna.

Quem não é daqui, ou mesmo quem não é tradicionalista, não vai entender bem a letra dessa música, mas mesmo assim resolvi colocar. Segue também um link de um vídeo dessa música, interpretada por Cesar Passarinho ao som de Renato Borghertti.
Guri



Das roupas velhas do pai queria que a mãe fizesse
Uma mala de garupa e uma bombacha e me desse
Queria boinas e alpargatas e um cachorro companheiro
Pra me ajudar a botar as vacas no meu petiço sogueiro
Hei de ter uma tabuada e o meu livro querer ler
Vou aprender a fazer contas e algum bilhete escrever
Pra que a filha do seu Bento saiba que ela é meu bem querer
E se não for por escrito eu não me animo a dizer
Quero gaita de oito baixos pra ver o ronco que sai
Botas feitio do Alegrete e esporas do Ibirocai
Lenço vermelho e guaiaca compradas lá no Uruguai
Pra que digam quando eu passe “saiu igualzito ao pai”
E se Deus não achar muito tanta coisa que eu pedi
Não deixe que eu me separe deste rancho onde nasci
Nem me desperte tão cedo do meu sonho de guri
E de lambuja permita que eu nunca saia daqui

quinta-feira, 15 de setembro de 2011

Um dilema resolvido

Realmente, nada é por caso.

Quem me conhece e acompanha o blog sabe que nas últimas semanas eu estive muito angustiada com relação à doar ou não as roupinhas do João Pedro. Depois que postei o assunto no blog, duas amigas me mandaram e-mails dando suas opiniões, uma dizia pra dar, outra dizia pra não dar, mas as duas justificavam suas opiniões, eram convincentes e me convenceram. Mas como resolver o impasse, se continuei concordando com as duas opiniões?

Então resolvi que deixaria o tempo agir. Que deixaria esse assunto descansar e quando fosse pra resolver, seria resolvido. Na maioria das vezes foi assim que resolvi minhas angústias. Porém não imaginei que a solução viesse tão rápido: apenas uma semana depois.

Sábado passado, quando estávamos em função da obra lá de casa, eu estava conversando com um dos pedreiros, o conheço à bastante tempo e sei que sua esposa está grávida, então eu perguntei pra quando era o bebê deles, e ele me disse que já deve estar nascendo, aí perguntei se eles sabiam o que era e ele me disse “um guri. Depois de 3 gurias, veio o gurizinho pra fechar a conta”. Quando ele me disse isso, foi como se uma nuvem estivesse se abrindo na minha frente e algo me dissesse: chegou a hora.

Chamei o Amaral num cantinho e perguntei o que ele achava de darmos algumas roupinhas pra eles. O Amaral quis saber como eu estava me sentindo, e disse que se isso fosse me fazer bem, que ele não via problema algum. Então de repente senti uma alegria, uma vontade imensa de dar aquelas coisinhas pra eles.

Fui pro meu quarto e fiquei lá sozinha. Peguei as caixas onde tudo estava guardado e comecei a separar. O que era branquinho, eu guardei, pois também poderá ser usado por uma menina futuramente. Guardei também uma peça de roupa que foi presente de cada dinda e de cada avó. Guardei também alguns sapatinhos, e toalhinhas de boca bordada, mas o resto, fui colocando tudo dentro de uma sacola. Tiptops, roupinhas de baixo, meias, pantufinhas, fraldas de pano, travesseiros, conjuntos de berço, toalhas de banho, kit de higiene, cabides.... tudo. Juntei tudo e coloquei numa sacola e esperei o momento certo pra entregar.

Enquanto eu estava separando, não sentia tristeza, muito pelo contrário, estava certa de que estava fazendo o melhor. Mas quando peguei a toquinha que ele usou no hospital, isso sim me doeu. Essa eu nunca vou me desfazer. Essa foi a única peça que realmente foi dele, que teve o toque de pele dele e que ficou com o cheirinho dele, embora esse cheirinho já tenha saído e tenha sido substituído pelo cheiro de roupa guardada, mas ainda assim, peguei aquela toquinha e cheirei ela na tentativa de me recordar um pouquinho do tempinho que estive com ele nos meus braços, mesmo sem vida, e aí não consegui segurar as lágrimas. Nessa hora o Amaral entrou no quarto e me abraçou forte até eu ficar calma e poder voltar a mexer naquelas coisinhas.

Uma coisa que me chamou a atenção, foi que na primeira vez que mexi nas roupinhas, logo que tudo aconteceu, eu olhava pra elas e sentia que tudo aquilo tinha uma valor muito grande, que eram lindas de mais pra eu entregar pra alguém, só que desta vez, eu olhei e percebi que tudo aquilo que eu estava doando, eram coisinhas tão simples, tão baratinhas, que sem dúvidas eu terei condições de comprar tudo de novo, e quem nos presenteou poderá presentear novamente se quiser. Foi estranho, mas percebi que na verdade era uma bobagem eu ficar guardando tudo aquilo e que tinha alguém que precisaria muito mais que meus futuros filhos.

Quando estávamos indo almoçar, o rapaz não pôde ficar, pois tinha um outro serviço pra fazer a tarde, então eu chamei o Amaral pra me acompanhar e juntos o chamamos pra lhe entregar a sacola de roupas. Quando fui até o quarto pra pegar, me deu um nó na garganta e uma vontade de recuar, mas eu sabia que tinha que seguir em frente. Então fiz uma oração, (aliás, rezei o tempo todo enquanto estava separando as roupas), respirei fundo e entreguei a sacola.

Quando ele viu o que tinha dentro, ficou todo agradecido, não sabia direito o que falar. O sogro dele (que é o chefe da obra e amigo da minha família), também estava emocionado. Meu pai, que me viu separando as roupinhas, estava junto e disse “Cara, essas roupinhas eram do meu netinho, mas agora vão ser do teu filhinho”. Eu não consegui segurar, e desabei, mas meu choro não era de tristeza, era por ter que estar passando por aquela situação e por estar sentindo saudade, muita saudade....

Ficou um clima estranho, todos emocionados, mas segurando pra não demonstrar e ele foi embora com a sacola de roupinhas muito agradecido.

Senti um certo alívio. De certa forma aconteceu tudo na mesma situação. Eu queria dar as roupas, mas ao mesmo tempo queria guardá-las, e aconteceu isso mesmo, dei a maioria, mas guardei algumas. Não queria simplesmente entregar num orfanato, queria conhecer quem estivesse recebendo, e foi isso mesmo, as roupas foram dadas pra uma família que conheço há muitos anos, que sei a realidade que vivem e que tenho certeza que precisam muito de tudo aquilo. E o melhor de tudo, a oportunidade apareceu dentro da minha casa, não fui eu quem fui atrás. De certa forma, o mundo deu uma volta pra fazer tudo vir ao meu encontro. Aconteceu tudo como eu queria.

Depois, voltamos ao nosso churrasco, estávamos sentados, eu, meu pai e o César, (chefe da obra, que é avô do bebê que ganhou as roupas), e meu pai mostrou pra ele a tatuagem que eu tenho no pé em homenagem ao João Pedro. Tenho um raminho de flores, e entre as flores coloquei um G (de Grayce) e um A (que tanto faz Anderson ou Amaral), aí depois que tudo isso aconteceu, aumentei esse raminho e coloquei as letras JP entre asinhas e auréola de anjinho. O César ficou encantado, achou muito bonita a tatuagem e de repente deu um estalo e perguntou “João Pedro???”. Aí eu respondi sim, esse era o nome do meu filho, e eis que ele me diz “parece que esse é o nome que vai ter o nenê deles”.

Pronto.... aí tive a certeza de que realmente tinha feito a coisa certa e de que nada acontece por acaso. Era pra essa criança mesmo que aquelas roupinhas estavam guardadas esperando o momento de eu entregar.

Mais tarde eu fiquei sabendo que o nome será apenas Pedro. Mas independente do nome que tenha, não sendo nem João, nem Pedro, nem João Pedro, que seja, José, Aparício, Leonardo ou qualquer outro nome... sei que fiz a coisa certa, na hora certa, pra pessoa certa. Não senti tristeza por me “desfazer” das roupas, não senti como se estivesse me desligando dele como eu temia, porque na verdade isso nunca vai acontecer. Percebi que ter doado as roupinhas dele pra alguém que realmente vai precisar, vai fazer um bem enorme à varias pessoas: principalmente ao bebê que vai nascer, mas também aos seus pais, aos seus avós, à mim e ao Amaral, ao João Pedro, enfim, a todos que de alguma forma estão relacionados a isso.

Aproveito aqui para agradecer às minha amigas, que se preocuparam comigo e resolveram expor suas opiniões, e a todos aqueles que estão à nossa volta dando suas opiniões, mas principalmente, nos enchendo de carinho e coragem para enfrentar essas dificuldades do dia a dia.

domingo, 11 de setembro de 2011

Finalmente nossa casa definitiva


Quando eu e o Amaral decidimos nos casar, só tínhamos certeza de uma coisa quanto onde iríamos morar: não moraríamos nem na minha mãe, nem na minha sogra. Sou da opinião que quem casa, quer sua casa, de preferência longe de casa hehehe.

Tanto meus pais, quanto os pais do Amaral nos ofereceram um cantinho pra gente construir uma casinha, mas não era isso que nós queríamos. Mesmo sendo nossos pais, eu ia me sentir como se tivesse morando de favor, ia sentir como se nada fosse nosso, fora que não daria o devido valor, pois não teríamos “conquistado” nosso canto. Além dos conflitos, que era melhor evitar....

Começamos então a pensar nas opções que tínhamos. Poderíamos morar numa casa maiorzinha, talvez com instalações mais confortáveis, e pagar aluguel, ou poderíamos comprar, financiando, claro, um lugar pequeno, sem grande infraestrutura, mas que um dia seria nosso.

Avaliamos os prós e contras e optamos pela segunda opção. Então seguimos em busca do nosso cantinho. Só que nossa renda não era grandes coisas, então não conseguiríamos um bom valor de financiamento e tivemos que ir reduzindo nossas opções.

Cotamos com muitas imobiliárias, visitamos muitas casas, lidamos com vários pilantras que por sorte percebemos isso antes, até que apareceu uma luz no fim do túnel. Encontramos o corretor Ismael, da imobiliária Saft de Sapucaia e ele nos ajudou do início ao fim. Não o conhecíamos, mas ele se mostrou tão correto desde o início e tivemos que confiar nele ou ficaríamos sem ter onde morar, pois não entendíamos nada dos trâmites imobiliários.

O Ismael nos levou pra ver um apartamento na Cohab. Confesso que eu não estava muito contente com isso, pois lá tem a fama de ser um bairro boca braba, de concentração de marginais. Porém não era nada disso. O ap estava em péssimas condições, mas adoramos o condomínio e a localização e então no dia em que completamos um ano de namoro, assinamos o contrato de compra. Nossa... quanta felicidade. O sonho de termos o nosso cantinho estava se realizando. Mas sabíamos que isso era só o início e seria provisório.

Fizemos uma mega reforma e ficou com a nossa cara. Todo mundo dizia que parecia casinha de boneca. Nossa previsão era ficar no ap uns 5 anos, e quando resolvêssemos ter filhos, compraríamos uma casa maior. Só que a restrição de espaço estava me incomodando. Sou espaçosa, gosto de tomar meu chimarrão sentadinha bem descansada, adoramos receber nossos amigos e num apartamento de 33m² não tínhamos essa liberdade. Fora que comecei a me incomodar com o barulho do andar de cima e dividir o espaço do carro com as crianças correndo e tocando pedra não me agradava nem um pouquinho. Então depois de 2 anos, lá fomos nós atrás do Ismael de novo pra trocarmos o ap por uma casa.

Encontramos o que seria a casa perfeita: estava em construção, na planta, poderíamos personalizar algumas coisas e o melhor, era no bairro onde eu e o Amaral nascemos e fomos criados, pertinho de tudo. Demos nosso ap de entrada e lá fomos nós financiar outra vez.

A construção da casa demorou 8 meses. Era um sobrado, com pátio pequeno mas individual. Tinha gramadinho nos fundos e até churrasqueira. Era um sonho. Trocamos um ap de 33m² por um sobrado de 70m², o dobro, e claro que sobrou espaço. Dava pra fazer um baile na sala hehehe.

Como adoro arte, fiz textura nas paredes, trabalhei a decoração com cores lindas, fiz tudo ficar do nosso jeitinho e como tínhamos um pouquinho de pátio, pegamos até um cachorro, o Tião, meu chowchow lindo. Foi uma diferença enorme mudar do ap pro sobrado, inclusive porque fizemos novos amigos. Mas sabíamos que ainda assim, essa não era a casa definitiva.

Só que felicidade de pobre dura pouco e a casa dos sonhos começou a apresentar problemas estruturais em apenas 2 meses. Foram vários problemas: parede rachando, degraus da escada empenando, muro quebrando, aberturas entortando... um horror.

Procuramos a imobiliária, que se colocou a nossa total disposição, porém a construtora tirou o corpo fora. Foram meses de incomodação, muito discuti com o dono da construtora até um dia dar um corridão nele e pedir pra ele nunca mais aparecer na minha frente. Se o Amaral não tivesse me segurado, acho que eu tinha voado no pescoço daquele cara. Não gosto nem de me lembrar. ...urgh...

Enfim, pra não nos deixar mal, a imobiliária arcou com parte das correções e nós com o restante. Só que depois disso eu anojei. Não tinha mais gosto nem prazer em ficar naquela casa. A casa que parecia um sonho virou um pesadelo: a rua era barulhenta, tinham dois vizinhos caminhoneiros que todos os dias às 5 da manhã ligavam o caminhão e deixavam aquecendo, era insuportável o barulho e o cheiro da fumaça. Tinha uma praga de um guri que chegava de madrugada sempre com o som do carro ligado a toda altura, acordando todo mundo, sem contar que no domingo de tarde ele ficava com a sua moto de motocross trilhando de um lado pro outro na nossa calçada. Não dava mais pra aguentar, simplesmente não dava.

O Tião cresceu e o pátio ficou pequeno pra ele, e aí veio a gravidez do João Pedro e ter um filho morando ali naquele lugar não ia dar certo. Todo mundo falava mal da Cohab, mas ali eu me senti muito mais no meio de uma vila do que lá. Tomada a decisão, lá fomos nós atrás do Ismael de novo. Já não éramos mais apenas clientes, viramos amigos e qualquer negociação com ele, era totalmente confiável.

Dessa vez demorou um pouco mais, precisávamos primeiro vender nossa casa pra depois comprar outra. Só que encontramos a casa que queríamos muito rápido: no mesmo bairro (na rua de trás), 90 m² de construção e o melhor de tudo... 440m² de pátio, praticamente um sítio hehehe.

Foi muita ansiedade, eu tinha um medo de aparecer outro comprador pra essa casa antes de vendermos a nossa. Fizemos até promoção e o Ismael se puxou pra vender a nossa, até que chegou um comprador muito interessado, pechinchou um pouco mas negociamos muito fácil e ele aceitou. No dia seguinte já assinamos a papelada de compra e venda e uma semana depois já estávamos assinando a compra da outra. Essa negociação da venda do nosso sobrado rendeu muita incomodação, mas isso é assunto pra outro momento, que espero em breve postar aqui no mesmo dia que soltarei foguetes. Aguardem notícias sobre esse assunto.

Enfim, em setembro de 2010 vendemos nossa casa, compramos a outra e tínhamos 90 dias pra fazer a mudança. Só que deu tanta enrolação, tanto stress, que nossa mudança saiu só em maio de 2011, uma semana antes do casamento, em meio à descoberta de que teria que fazer uma curetagem... Nossa, foi muuuuito turbulento.

Mas a tão esperada mudança para a casa nova aconteceu. Não como esperávamos, pois queríamos poder reformar antes, mas infelizmente não deu. Fizemos a mudança de carro, como era só uma rua, nem contratamos caminhão e fomos levando aos poucos. Apareceram tantos amigos pra ajudar que em menos de 2 horas a mudança tava feita. Parecia até que estávamos fugindo, pois a mudança foi a jato e de noite hehehehe.

Bom, começou aí um longo período de alojamento. Como teríamos que reformar a casa, nem tirei tudo das caixas, os móveis ficaram atravessados no meio do caminho e tudo tá empilhado, só o que que arrumamos foi o quarto e a cozinha.

Pra poder iniciar a reforma, precisava da liberação da escritura, e deeeeemorooooou... 3 longos meses esperando a liberação e morando alojados, até que finalmente saiu. No outro dia já saímos pra comprar o material e acertar o início da obra com o pedreiro.

Nossa, a minha alegria foi tanta quando o material começou a chegar... carregamos tijolos a tarde toda e eu nem reclamei. O Amaral trabalhou como um cavalo de madeireira carregando coisas pra dentro do pátio e nem sentiu dor, tanta era a nossa felicidade em poder começar nossa obra.

Essa semana o tempo colaborou, e os pedreiros fizeram o serviço render, mas como sempre tem que ter alguma coisinha pra atrapalhar, no primeiro dia da obra o chefe dos pedreiros quebrou o dedo do pé.... PQP, que azar.... mas ele não se apegou nisso, tá vindo fiscalizar a obra mesmo assim hehehe.

Nem no final de semana eles param, e como nesse findi estaríamos em casa, o Amaral resolveu assar uma carne pra recompensar o trabalho e o envolvimento de todo mundo.

Não vejo a hora da reforma acabar, eu poder colocar minhas coisas no lugar e finalmente poder trazer aqui em casa todo mundo que eu devo um cafezinho hehehe.

Abaixo algumas fotinhos da nossa função. Espero em breve poder colocar fotos com imagens lindas.

No dia da mudança: tudo ensacado

Amaral carregando as tralhas (detalhe pra bagunça)
 


Preparando a primeira refeição na casa nova

 Miojo com ovo...


O dia que chegou o material para a obra

carregando o material


Primeiro churrasco, já na obra iniciada

quarta-feira, 7 de setembro de 2011

Vivendo um dilema

Depois da passagem desse furacão que veio destruindo a minha vida, estou tentando juntar os pedaços e me refazer. Posso dizer que estou conseguindo, mas nem de longe dá pra dizer que é fácil. Sem sombra de dúvidas esses últimos meses são os piores que já vivi dentro dos meus quase 29 anos.

Não lembro de ter passado em momento algum por situações tão dolorosas quanto as que passei ultimamente. Perdi meus avós, terminei relacionamentos, e na ocasião parecia que ia morrer de tanto sofrimento. Hoje vejo que tudo aquilo não era nada perto da dor de perder um filho. Isso sim parece o fim, e de certa forma é o fim.

Sinto como se a minha vida tivesse sido atropelada, se parte de mim tivesse sido arrancada e a parte que resta tem que viver com as deficiências que esse trauma deixou. Só que essa parte que resta, tem que fazer um esforço em dobro pra poder superar as dificuldades e tentar levar uma vida perto de uma vida normal.

Aparentemente, hoje eu levo uma vida normal. Algumas vezes acredito sim que seja uma vida normal, mas de vez em quando, uma nuvem escura para em cima de mim e os piores tipos de sentimentos tomam conta dos meus pensamentos e fica quase impossível sair debaixo desta nuvem, até porque quando me dou conta disso, já é tarde. E isso andou acontecendo nos últimos dias...

Já faz algum tempo que uma dúvida paira a minha cabeça: Doar ou não as roupinha do João Pedro?

Uma vez postei no blog do João Pedro uma situação que aconteceu que eu considero uma experiência de contato com o plano espiritual. Estava em casa, mexendo nas roupinhas dele e fui tomada por uma forte emoção. Pedi um sinal a ele, para que ele me dissesse o que eu devia fazer com aquelas roupinhas, se era para doar ou se ele voltaria ou mandaria um irmãozinho. Guardei as roupas em uma sacola e mais tarde, quando fui pegar, vi que estava escrito JOÃO na sacola. Interpretei isso como um “essas roupinhas são do João, e não é pra dar elas ainda”. Pronto, guardei e nunca mais mexi.

Porém venho lendo muitos livros sobre espiritualidade, sobre o apego às coisas materiais e todos eles sugerem que é bom tanto para os encarnados quanto para os desencarnados que haja o desapego do material. Isso favorece o desligamento, a desobsessão e ajuda os seres a seguir seus caminhos independente de qual plano estejam vivendo.

No início isso nem me passava pela cabeça, porque eu pretendia ter outro bebê logo. Mas como aconteceu tudo aquilo, e hoje não temos mais previsão de quando vamos tentar novamente, tenho pensado muito em doar as coisinhas que seriam dele pra as crianças necessitadas. Mas confesso que isso não me deixa a vontade.

Um dia tive um sobressalto e resolvi que daria as fraldas. Afinal, eu tinha um estoque de fraldas em casa que estavam só ocupando espaço e que logo perderiam a validade. Então dividi entre duas famílias. Umas pra sobrinha de uma amiga, que é a 4ª filha de um casal bem jovem, que estavam aceitando doações, visto que bancar 4 crianças não é nada fácil. Outras eu dei pro afilhado de outra amiga, um menino que nasceu prematuro, tem necessidade de leite especial e os pais estão desempregados. Sem sobra de dúvidas que estas fraldas seriam muito úteis.

A decisão de doar as fraldas foi tomada de uma hora pra outra, mas confesso que na hora de entregar, me deu vontade de dar um passo pra trás, mas aí já era tarde. Então fechei os olhos e tentei não pensar muito. Entreguei os pacotes com um nó na garganta, mas certa de que estava fazendo a coisa certa.

Ufa, consegui. Foi difícil, mas aconteceu. E só o fato de não ver mais aquela pilha de pacotes de fraldas lá em casa já dá um certo alívio.

Só que agora tem as roupinhas. Minha consciência diz que seriam muito úteis à crianças carentes, mas meu coração diz que são as roupas do meu filho, que ele nem chegou a usar e que não é qualquer pessoa que terá esse merecimento. Parece uma coisa egoísta, maldosa até, mas fazer o quê se é isso que eu sinto????

Queria que a criança que fosse usar aquelas roupinhas pudesse receber o mesmo carinho que o JP receberia. São roupinhas compradas pelas dindas, pelas avós, pelas pessoas que o amavam, então tem uma dose extra de carinho que foi dedicado exclusivamente a ele quando foram compradas. Era no João Pedro que elas pensaram quando olharam as roupinhas na loja. Era imaginando ele com aquela roupa e não qualquer outra criança.

Muito estranho esse sentimento, e confesso que me envergonho um pouco disso.

Eu queria dar as roupinhas dele, pra uma criança que eu soubesse que a mãe seria caprichosa e que teria o mesmo carinho e cuidado que eu teria com elas. Queria que quem fosse usar aquelas roupinhas fosse uma criança que também é amada por nós e que fosse usufruir do carinho e sentimento que envolvem aquelas roupas. Queria dar pra alguém conhecido, mas também não sei como me sentiria depois, vendo uma criança usando as roupinhas dele. Sei lá, são tantos sentimentos conflitantes.

Cheguei a cogitar a hipótese de dar algumas roupinhas pra uma amiga da minha cunhada. Essa menina teve uma história muito triste, também perdeu um menino que nasceu com 6 meses mas não resistiu e agora, 5 anos depois teve outro menino. Eu sei que minhas cunhadas, dindas do JP, têm por essa criança o mesmo carinho que elas tinham pelo João Pedro, então esse bebê receberia o carinho delas duplamente. Mas quando comentei isso, tanto minha cunhada quanto meu marido acharam que não seria oportuno, visto que não era pra uma família que realmente precisasse.

Pra mim, a questão de dar as roupas está muito mais ligada ao sentimental, como se fosse uma extensão do amor ao João Pedro a outra criança do nosso convívio, e pro Amaral a questão é necessidade.

Ele não é a favor de simplesmente nos desfazermos das roupinhas do JP. Ele acha que devemos deixa-las guardadas, até porque onde estão não estão atrapalhando. A opinião dele é que só devemos dar se surgir uma oportunidade casual, de aparecer alguma família necessitada. Fora isso, devem ficar guardadas, esperando o dia que tivermos outro filho e que este sim, usufruirá de todo o sentimento de carinho e amor que cada peça de roupa tem.

Não me incomoda o fato de saber que as roupas estão lá em casa. Estão guardadas dentro de caixas, dentro de um roupeiro que fica no quartinho, ou seja, eu não vejo. Talvez se eu visse toda hora, isso ficasse me trazendo lembranças e aí sim poderia me incomodar. Minha família pensa como o Amaral, e me incentivam a deixar tudo guardado.

Esse foi o assunto principal da minha terapia essa semana. Eu não sei o que faço, e estou sofrendo muito com isso. São sentimentos tão opostos bagunçados dentro da minha cabeça que não me deixam tomar uma decisão sana. E além disso tem uma coisa minha que é a auto cobrança. Eu não admito errar, me cobro incessantemente quando algo não dá certo, e sofro quando não consigo colocar as coisas nos eixos. Não consigo admitir o fato de eu não conseguir tomar uma decisão quanto a este assunto. Eu cobro de mim mesma que eu tenho que ser exemplo, que eu preciso estar bem e fazer as coisas com consciência, mas não estou conseguindo ser racional e consciente neste assunto e isso está me atormentando.

Na terapia o meu psicólogo me disse que eu não devo exigir tanto de mim, não me cobrar e não me culpar por estar confusa. Que eu devo deixar o tempo se encarregar de resolver essas coisas. Só que esse autocontrole é mais forte que eu. Talvez seja por causa disso que eu “pareço” estar me recuperando bem, por que eu me cobro isso todos os dias.

Exijo de mim mesma que eu tenho que ficar bem, só que este assunto das roupinhas ainda é uma incógnita pra mim. Um dia decido uma coisa, no outro volto atrás, aí fico pensando e repensando, tentando definir alguma coisa, mas com isso só consigo é mais angústia e indefinição. Aí de vez em quando aparece alguém que me pergunta o que eu fiz com as roupas e quando respondo que estão guardadas, fazem aquelas caras de reprovação e criticam me condenando por estar “prendendo” o JP aqui na Terra. Aí penso mais um pouco, e resolvo que vou doar, mas não consigo. Daí vem outra pessoa e me diz que não tem que doar, que tem o sentimento, que não preciso me precipitar e aí de novo eu volto atrás.... Meu Deus, isso é uma coisa impossível de lidar.

Parece que se eu der todas as roupinhas dele, vou estar tirando de vez ele da minha vida. E não quero isso. Por mais que tenha sido doloroso tudo isso, não quero esquecer dele jamais, não quero tirar ele da minha vida, nem fingir que nada aconteceu. Até porque isso seria impossível.

Então estou eu nesse dilema, sem saber o que fazer, sem saber como agir, sofrendo por não conseguir tomar uma decisão. Só o que posso fazer é rezar e pedir a Deus que me oriente a seguir o melhor caminho.