Ontem vivi
uma situação inesperada...
Um tio do
meu pai faleceu. Eu não tinha ligação com ele, mas tenho com o restante da
família. Quando passamos pela situação do João Pedro, as filhas e netas desse tio
estiveram do meu lado o tempo todo, então eu senti que devia retribuir esse carinho
na hora da dor, e acabei indo ao velório.
Depois do
João Pedro eu nunca mais tinha ido em velório. Na verdade tentei ir ao da vó de
uma amiga, mas só cheguei e já saí, pois não consegui ficar. Só que desta vez,
eu me achava com mais força pra suportar a situação. Só que mal cheguei na
capela e encontrei uma das minhas primas, neta desse tio, que passou pelo mesmo
que eu.
A Natália
teve seu menino Artur e alguns meses depois ele faleceu. Nunca soubemos certo o
motivo, parece que foi um vírus letal que se instalou no bebê. Nunca quis saber
detalhes, pois “imaginava” o quanto devia ser difícil lidar com isso. Nem
imaginava que mais tarde eu sentiria na pele essa dor.
Depois de
uns 3 anos, (eu já tinha passado o mesmo com o JP) a Natália engravidou novamente,
mas perdeu na gestação. Eu fiquei muito triste com isso, e só pensava que
horror que ela devia estar passando. Poucos meses depois, passei tudo isso
também.
Eu e a
Natália não somos próximas, na infância até éramos mais e agora, cada uma segue
seu rumo, mas ontem quando nos vimos, nos abraçamos e choramos juntas sem dizer
uma só palavra, e uma estava entendendo o que a outra estava sentindo.
Fiquei junto
com a família, fiquei muito junto com a Natália, e lá pelas tantas, uma prima
do meu pai, completamente sem noção, perguntou pra mim e pra minha mãe se já
tínhamos visto que na capela ao lado tinha um bebezinho sendo velado. Ela ainda
fazia gestos com as mãos mostrando o tamanho do caixãozinho e falando que era
tudo rosinha.
Fiquei pasma
com a frieza daquela pessoa em tocar nesse assunto comigo, num momento em que estava
vendo que eu tava acabada.
Eu e minha
mãe não respondemos e ela continuou insistindo no assunto, perguntando se
quando um a criança nasce morta, tem velório. Aí minha mãe ainda se deu o
trabalho de responder que pro João Pedro foi feito. Fiquei doida e disse com o
olhar fulminante que o João Pedro não tinha nascido morto. Falei isso e virei
as costas pra não ter que dar um murro na cara dessa prima do meu pai. Tão
inconveniente, perguntando esse tipo de coisa, bem estilo de gente “urubu de
velório”.
Fiquei com
muita raiva dela, pela falta de noção. Aí minha mãe depois de um tempo veio me
procurar dizendo que a fulana tinha ficado toda sem jeito, que não sabia o que
fazer, porque ela não sabia que eu tinha perdido um filho. Duvido! Isso não é o
tipo de notícia que uma família de gente fofoqueira deixe de comentar. Ela
sabia sim, tanto que lembro do marido dela no velório do meu filho. Fiquei com
mais raiva ainda e disse pra minha mãe não deixar essa mulher chegar perto de
mim, pois eu não sabia o que seria capaz de fazer.
Perdi as
estribeiras. Fiquei nervosa, e comecei a pensar e imaginar que na capela ao
lado de onde eu estava, havia um pai e uma mãe passando pelo mesmo desespero
que eu e o Amaral passamos. Comecei a sentir uma necessidade de ir abraçar
aquela mãe, mas me segurei, pois não podia invadir assim a intimidade de quem
eu não conhecia.
Só que
fiquei agitada, andando de um lado pro outro, e numa dessas acabei olhando lá
pra dentro e vi que os pais do bebê eram um casal bem jovem, aparentando ser
como eu e o Amaral. Então ficou de novo martelando algo na minha cabeça, que eu
devia ir lá e dizer praquela mãe não perder as esperanças e continuar confiando
em Deus. Tentei resistir, mas meu coração falou mais forte. Larguei minha bolsa
com minha mãe e invadi o outro velório. Cheguei
na moça, perguntei se ela era a mãe, ela disse que sim, então eu pedi
desculpas, disse que estava do lado de fora e que tinha visto o sofrimento
dela. Disse que há quase dois anos eu havia passado pelo mesmo que ela e que
sabia o que ela estava sentindo, e que eu só queria dar um abraço nela e dizer
que ela continuasse confiando em Deus, que Ele sabia o que fazer. Ela então me
agradeceu, com o olhar longe, de quem estava a base de remédios, e disse que eu
ficasse com Deus. Abracei o pai, desejei que Deus estivesse com eles, e saí.
Não prestei
atenção em nada, não olhei pro bebê e não perguntei nada. Não era isso que
tinha ido fazer lá, eu fui lá compartilhar um sentimento de mãe, que só mãe que
perde um filho sabe o que é isso.
Quando saí,
minha família estava me esperando na porta, todos chorando e me condenando porque
eu tinha ido fazer isso. Eu fiz o que meu coração mandou. Eu precisava fazer
isso.
Chorei um
pouco sentada na rua, até que me acalmei. Aí era hora de buscar o Amaral no
trabalho, meu pai foi comigo pra eu não ir sozinha. Voltamos no velório e então
contei pra ele o que eu tinha feito. Ele não criticou, nem apoio, apenas me
abraçou e fez uma expressão de pesar. Voltamos no velório do tio do meu pai pra
ficar só mais um pouquinho e ir pra casa, pois já tinha passado emoção de mais
naquela noite.
Só que daí
meu pai e chamou e vi que ele estava com pessoas que eu não conhecia, pensei
que fossem parentes que ele ia me apresentar, já que velório é propício à isto.
Quando fui até ele, ele disse que aqueles eram amigos dos pais da bebê que
estava sendo velanda e que a menina tinha morrido por causa de Hérnia
Diafragmática. Nossa.... quando ouvi aquilo meu chão se abriu. Parece que
estava revivendo tudo de novo. Não tinha vivenciado tão de perto um novo caso de
sofrimento com HDC.
Desmoronei
chorando, me revoltei e só sabia dizer que essa doença é uma praga e que isso
não pode ficar assim, sempre morrendo bebezinhos e as mães ficando
desamparadas. Veio então minha mãe e o Amaral e me acalmaram, até que pude
então falar direito com aquelas pessoas.
Eles me
contaram sobre o caso da menina Sofia, que só foi descoberta a HDC depois do
nascimento, e que ela tinha sido transferida pra um hospital público de POA ,
tinha vivido por 13 dias e nem chegou a fazer a cirurgia. Conversamos, conversamos,
falei dos blogs, do grupo de HDC no face e os amigos dos pais da Sofia se
interessaram em manter contato comigo e com o Amaral para que talvez a gente
possa ajuda-los. Com certeza, no que depender de mim, farei o possível.
Descobrimos que moramos na mesma cidade, bem perto por sinal, e que temos
outras “coincidências” como o fato de ter sido o primeiro bebê e de sermos espíritas.
No final da
madrugada, quando vim pra casa, fiquei pensando que talvez aquele comentário “desnecessário”
da prima do meu pai, tenha servido como uma porta para minha aproximação com
esses pais. Pois jamais podia imaginar que quando falei praquela mãezinha que
eu já havia passado por isso, que fosse tão igual ao que ela estava vivendo.
Não sei o nome
desses pais, fiquei com contato através dos amigos deles, que me pareceram ser
pessoas cheias de boas intenções em ajuda-los e fazer o bem. Tomara que um dia
eu possa conversar com essa mãe e realmente possa passar algo de bom a ela. Já
que numa situação inusitada, Deus fez cruzar os nossos caminhos.
Sofri com
tudo isso. Foram emoções fortes em apenas uma noite, mas hoje fiquei repousando
e recarregando as energias pra esse baby que está aqui dentro, afinal, ele(a),
é meu foco principal agora, e não posso deixar nada atrapalhar o bom andamento
de tudo.
Daqui há
pouco estou indo na minha consulta, mostrar o último exame pro meu obstetra e
planejar os próximos passos. Logo volto com notícias.
Bahhhhhh Grayceee to passadaaaaaa!!!!
ResponderExcluirJuro, nem sei o que falar... Quando li rapido a noticia perdi as pernas achando q era contigo d novo... afeeeeeee quase morri de susto!!
Nossa, tomara msm q vc possa conversar com eles, com certeza fará mto bem a ela!!
beijao
Olha Débie... graças a Deus não foi comigo, mas quando me disseram que o bb tinha morrido por causa da HDC, senti a mesma sensação de qdo minha médica disse que isso era uma bucha. Senti como se fosse comigo. Foi como se eu estivesse recebendo uma notícia minha. Foi uma tenção tão grande, que hj estou toda dura, com dor no corpo todo.
ExcluirImagino que seja isso que vc sinta a cada mãe que te dá a notícia de perda. Senti isso com a Ariella, mas jamais imaginava presenciar m velório de bb com HDC.
Espero só é que Deus acalme essa mãe, porque a essa hora, posso imagina como ela está....
Nossa Grayce...não sei se foi coincidência, acredito que Deus que fez os caminhos de vcs se cruzassem, mesmo sendo através dessa "parenta" sem noção, mas foi a forma de tocar o teu coração e fazer com que vc fosse até lá!
ResponderExcluirVou ficar torcendo para que vc possa conversar com eles!
Bjs
Sei lá Carla...
ExcluirHj pensei que fui atrevida em invadir o velório e ir alar com ela, mas na hora foi o que meu coração mandou.
Espero poder conversar com eles e tentar ajudar da forma como for.
Tomara que Deus me permita isso.
Nossa, como esse mundo é pequeno... Me emocionei contigo querida! Certamente, no seu lugar, eu teria feito a mesma coisa... é um sentimento forte e comum que só nós mamães de anjos vítimas da HDC podemos entender. Um grande beijo e se cuida viu?
ResponderExcluirTatá, só quem perde sabe o que é isso né.... O resto, pode imaginar, mas sentir, só a gente. E isso não é mérito nenhum. Se eu pudesse, queria que nunca mais ninguém passe por isso....
ExcluirOi Grayce,
ResponderExcluirNada acontece por acaso, por pior que sejam as circunstâncias e os desafios.
Mesmo sendo através de uma pessoa "sem noção" foi aberta uma oportunidades de criar novos laços de amizades e quem sabe vc vai fazer muitas coisas por essa família que nem sabe ainda!!!
Um grande beijo guria e parabéns pelo blog.