terça-feira, 9 de outubro de 2012

"Coincidentemente"... HDC

Ontem vivi uma situação inesperada...
 
Um tio do meu pai faleceu. Eu não tinha ligação com ele, mas tenho com o restante da família. Quando passamos pela situação do João Pedro, as filhas e netas desse tio estiveram do meu lado o tempo todo, então eu senti que devia retribuir esse carinho na hora da dor, e acabei indo ao velório.
 
Depois do João Pedro eu nunca mais tinha ido em velório. Na verdade tentei ir ao da vó de uma amiga, mas só cheguei e já saí, pois não consegui ficar. Só que desta vez, eu me achava com mais força pra suportar a situação. Só que mal cheguei na capela e encontrei uma das minhas primas, neta desse tio, que passou pelo mesmo que eu.
 
A Natália teve seu menino Artur e alguns meses depois ele faleceu. Nunca soubemos certo o motivo, parece que foi um vírus letal que se instalou no bebê. Nunca quis saber detalhes, pois “imaginava” o quanto devia ser difícil lidar com isso. Nem imaginava que mais tarde eu sentiria na pele essa dor.
 
Depois de uns 3 anos, (eu já tinha passado o mesmo com o JP) a Natália engravidou novamente, mas perdeu na gestação. Eu fiquei muito triste com isso, e só pensava que horror que ela devia estar passando. Poucos meses depois, passei tudo isso também.
 
Eu e a Natália não somos próximas, na infância até éramos mais e agora, cada uma segue seu rumo, mas ontem quando nos vimos, nos abraçamos e choramos juntas sem dizer uma só palavra, e uma estava entendendo o que a outra estava sentindo.
 
Fiquei junto com a família, fiquei muito junto com a Natália, e lá pelas tantas, uma prima do meu pai, completamente sem noção, perguntou pra mim e pra minha mãe se já tínhamos visto que na capela ao lado tinha um bebezinho sendo velado. Ela ainda fazia gestos com as mãos mostrando o tamanho do caixãozinho e falando que era tudo rosinha.
 
Fiquei pasma com a frieza daquela pessoa em tocar nesse assunto comigo, num momento em que estava vendo que eu tava acabada.
 
Eu e minha mãe não respondemos e ela continuou insistindo no assunto, perguntando se quando um a criança nasce morta, tem velório. Aí minha mãe ainda se deu o trabalho de responder que pro João Pedro foi feito. Fiquei doida e disse com o olhar fulminante que o João Pedro não tinha nascido morto. Falei isso e virei as costas pra não ter que dar um murro na cara dessa prima do meu pai. Tão inconveniente, perguntando esse tipo de coisa, bem estilo de gente “urubu de velório”.
 
Fiquei com muita raiva dela, pela falta de noção. Aí minha mãe depois de um tempo veio me procurar dizendo que a fulana tinha ficado toda sem jeito, que não sabia o que fazer, porque ela não sabia que eu tinha perdido um filho. Duvido! Isso não é o tipo de notícia que uma família de gente fofoqueira deixe de comentar. Ela sabia sim, tanto que lembro do marido dela no velório do meu filho. Fiquei com mais raiva ainda e disse pra minha mãe não deixar essa mulher chegar perto de mim, pois eu não sabia o que seria capaz de fazer.
 
Perdi as estribeiras. Fiquei nervosa, e comecei a pensar e imaginar que na capela ao lado de onde eu estava, havia um pai e uma mãe passando pelo mesmo desespero que eu e o Amaral passamos. Comecei a sentir uma necessidade de ir abraçar aquela mãe, mas me segurei, pois não podia invadir assim a intimidade de quem eu não conhecia.
 
Só que fiquei agitada, andando de um lado pro outro, e numa dessas acabei olhando lá pra dentro e vi que os pais do bebê eram um casal bem jovem, aparentando ser como eu e o Amaral. Então ficou de novo martelando algo na minha cabeça, que eu devia ir lá e dizer praquela mãe não perder as esperanças e continuar confiando em Deus. Tentei resistir, mas meu coração falou mais forte. Larguei minha bolsa com minha mãe e invadi o outro velório. Cheguei  na moça, perguntei se ela era a mãe, ela disse que sim, então eu pedi desculpas, disse que estava do lado de fora e que tinha visto o sofrimento dela. Disse que há quase dois anos eu havia passado pelo mesmo que ela e que sabia o que ela estava sentindo, e que eu só queria dar um abraço nela e dizer que ela continuasse confiando em Deus, que Ele sabia o que fazer. Ela então me agradeceu, com o olhar longe, de quem estava a base de remédios, e disse que eu ficasse com Deus. Abracei o pai, desejei que Deus estivesse com eles, e saí.
 
Não prestei atenção em nada, não olhei pro bebê e não perguntei nada. Não era isso que tinha ido fazer lá, eu fui lá compartilhar um sentimento de mãe, que só mãe que perde um filho sabe o que é isso.
 
Quando saí, minha família estava me esperando na porta, todos chorando e me condenando porque eu tinha ido fazer isso. Eu fiz o que meu coração mandou. Eu precisava fazer isso.
 
Chorei um pouco sentada na rua, até que me acalmei. Aí era hora de buscar o Amaral no trabalho, meu pai foi comigo pra eu não ir sozinha. Voltamos no velório e então contei pra ele o que eu tinha feito. Ele não criticou, nem apoio, apenas me abraçou e fez uma expressão de pesar. Voltamos no velório do tio do meu pai pra ficar só mais um pouquinho e ir pra casa, pois já tinha passado emoção de mais naquela noite.
 
Só que daí meu pai e chamou e vi que ele estava com pessoas que eu não conhecia, pensei que fossem parentes que ele ia me apresentar, já que velório é propício à isto. Quando fui até ele, ele disse que aqueles eram amigos dos pais da bebê que estava sendo velanda e que a menina tinha morrido por causa de Hérnia Diafragmática. Nossa.... quando ouvi aquilo meu chão se abriu. Parece que estava revivendo tudo de novo. Não tinha vivenciado tão de perto um novo caso de sofrimento com HDC.
 
Desmoronei chorando, me revoltei e só sabia dizer que essa doença é uma praga e que isso não pode ficar assim, sempre morrendo bebezinhos e as mães ficando desamparadas. Veio então minha mãe e o Amaral e me acalmaram, até que pude então falar direito com aquelas pessoas.
 
Eles me contaram sobre o caso da menina Sofia, que só foi descoberta a HDC depois do nascimento, e que ela tinha sido transferida pra um hospital público de POA , tinha vivido por 13 dias e nem chegou a fazer a cirurgia. Conversamos, conversamos, falei dos blogs, do grupo de HDC no face e os amigos dos pais da Sofia se interessaram em manter contato comigo e com o Amaral para que talvez a gente possa ajuda-los. Com certeza, no que depender de mim, farei o possível. Descobrimos que moramos na mesma cidade, bem perto por sinal, e que temos outras “coincidências” como o fato de ter sido o primeiro bebê e de sermos espíritas.
 
No final da madrugada, quando vim pra casa, fiquei pensando que talvez aquele comentário “desnecessário” da prima do meu pai, tenha servido como uma porta para minha aproximação com esses pais. Pois jamais podia imaginar que quando falei praquela mãezinha que eu já havia passado por isso, que fosse tão igual ao que ela estava vivendo.
 
Não sei o nome desses pais, fiquei com contato através dos amigos deles, que me pareceram ser pessoas cheias de boas intenções em ajuda-los e fazer o bem. Tomara que um dia eu possa conversar com essa mãe e realmente possa passar algo de bom a ela. Já que numa situação inusitada, Deus fez cruzar os nossos caminhos.
 
Sofri com tudo isso. Foram emoções fortes em apenas uma noite, mas hoje fiquei repousando e recarregando as energias pra esse baby que está aqui dentro, afinal, ele(a), é meu foco principal agora, e não posso deixar nada atrapalhar o bom andamento de tudo.
 
Daqui há pouco estou indo na minha consulta, mostrar o último exame pro meu obstetra e planejar os próximos passos. Logo volto com notícias.





7 comentários:

  1. Bahhhhhh Grayceee to passadaaaaaa!!!!

    Juro, nem sei o que falar... Quando li rapido a noticia perdi as pernas achando q era contigo d novo... afeeeeeee quase morri de susto!!

    Nossa, tomara msm q vc possa conversar com eles, com certeza fará mto bem a ela!!

    beijao

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    1. Olha Débie... graças a Deus não foi comigo, mas quando me disseram que o bb tinha morrido por causa da HDC, senti a mesma sensação de qdo minha médica disse que isso era uma bucha. Senti como se fosse comigo. Foi como se eu estivesse recebendo uma notícia minha. Foi uma tenção tão grande, que hj estou toda dura, com dor no corpo todo.
      Imagino que seja isso que vc sinta a cada mãe que te dá a notícia de perda. Senti isso com a Ariella, mas jamais imaginava presenciar m velório de bb com HDC.
      Espero só é que Deus acalme essa mãe, porque a essa hora, posso imagina como ela está....

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  2. Nossa Grayce...não sei se foi coincidência, acredito que Deus que fez os caminhos de vcs se cruzassem, mesmo sendo através dessa "parenta" sem noção, mas foi a forma de tocar o teu coração e fazer com que vc fosse até lá!

    Vou ficar torcendo para que vc possa conversar com eles!

    Bjs

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    1. Sei lá Carla...
      Hj pensei que fui atrevida em invadir o velório e ir alar com ela, mas na hora foi o que meu coração mandou.
      Espero poder conversar com eles e tentar ajudar da forma como for.
      Tomara que Deus me permita isso.

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  3. Nossa, como esse mundo é pequeno... Me emocionei contigo querida! Certamente, no seu lugar, eu teria feito a mesma coisa... é um sentimento forte e comum que só nós mamães de anjos vítimas da HDC podemos entender. Um grande beijo e se cuida viu?

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    1. Tatá, só quem perde sabe o que é isso né.... O resto, pode imaginar, mas sentir, só a gente. E isso não é mérito nenhum. Se eu pudesse, queria que nunca mais ninguém passe por isso....

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  4. Oi Grayce,

    Nada acontece por acaso, por pior que sejam as circunstâncias e os desafios.
    Mesmo sendo através de uma pessoa "sem noção" foi aberta uma oportunidades de criar novos laços de amizades e quem sabe vc vai fazer muitas coisas por essa família que nem sabe ainda!!!
    Um grande beijo guria e parabéns pelo blog.

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Abraço, fique com Deus