quarta-feira, 2 de novembro de 2011

Por que ir ao cemitério??? ?

Quando meus avós morreram eu tinha 8 e 9 anos e nessa fase eu não tinha opinião nem vontade própria, então sempre no dia de finados eu tinha que ir com meus pais ao cemitério pra rezar. Nunca entendi porque eu não podia rezar de casa, mas tudo bem...

Os pais do meu pai estão em um cemitério longe, mas os pais da minha mãe estão no cemitério que fica na rua da casa da minha mãe, então no início, logo que meu avô faleceu, eu acompanhava minha mãe toda semana. Íamos ao cemitério, limpávamos o túmulo, levávamos flores e muitas vezes passávamos a tarde de domingo lá. Eu achava isso um tédio, mas ia pra acompanhar.

Quando entrei na adolescência e comecei a ter minhas vontades e minha liberdade, comecei a me perguntar sobre a criação do mundo, das coisas e principalmente me perguntava pra onde íamos depois que morríamos. E comecei sozinha a tirar conclusões dos meus pensamentos, coisas que na catequese e na crisma não me ensinaram, então comecei a pensar que “enterrar” uma pessoa era a coisa mais inútil que podia existir. Passava na frente do cemitério e ficava pensando “que inutilidade, tanto espaço de terra que podia virar casas pra comunidade, e estão aí, cheia de ossos de gente morta”.

Aqueles que acharem que estou sendo grosseira, me desculpem, mas é isso que pensava na época sobre cemitérios. E hoje com o entendimento da doutrina espírita, só reforcei esse meu pensamento.

Quando recebemos a terrível notícia que tínhamos perdido o João Pedro, nem me passava pela cabeça que teria que pensar nessas coisas. Meu pai e o Amaral começaram a organizar a papelada de liberação e então tiveram que me perguntar o que eu queria fazer. Meu Deus, como eu podia pensar numa coisa dessas. Jamais pensei na vida que um dia eu perderia um filho, quem dirá que eu precisaria decidir oque fazer com o corpinho que nem pude ter no colo com vida.

Sempre fui favorável à cremação, mas diante das circunstâncias, nem pensei direito, e o mais prático e rápido era enterrar no mesmo cemitério dos meus avós (esse na rua da casa da minha mãe). 

No dia que o enterramos, (ah como eu queria nunca mais lembrar desse dia) eu lembro que quando eu estava fazendo a última despedida (pronto, não tem como não chorar quando lembro disso), eu abracei a lápide e disse: “pois é vô, fazia muito tempo que eu não vinha aqui ver vocês, mas agora eu vou vir mais vezes”.

Os dias que seguiram eu não preciso nem dizer como foram terríveis, quem já perdeu alguém que ama sabe bem como isso é horrível, e é lógico que eu não tinha vontade nenhuma de ir no cemitério e reviver tudo aquilo. O tempo foi passando e aos poucos eu fui voltando à minha consciência e meus pensamentos sobre cemitério voltaram. Afinal, o que eu ia fazer lá, se eu sentia a presença dele em todo lugar???? Não era lá, dentro daquela caixa de tijolos que eu ia sentir ele mais próximo de mim. Muito pelo contrário, sempre achei que voltando lá, eu sofreria demais, reviveria tudo aquilo que eu quero um dia deixar de lembrar.

O tempo passou e eu NUNCA voltei no cemitério. Não sei nem de que jeito está o túmulo, e nem faço questão de saber. Tenho certeza que tanto o João Pedro quanto meus avós não estão tristes por eu não ter ido lá. Se o que eu acredito realmente é possível, eles estão num lugar muito mais agradável do que um cemitério mórbido.

Outro dia estava conversando com uma amiga sobre este assunto e ela ficou espantada quando eu disse que nunca tinha ido, ela deu um salto e disse “mas já faz quase um ano”. Pois é.... quase um ano, e eu não fui e não pretendo voltar lá pra “visitar” o meu filho como algumas pessoas dizem. Pra mim é inconcebível imaginar eu entrando num cemitério pra levar flores ao meu filho. Não dá, simplesmente não dá....

Só que agora, na semana que antecedeu o dia de finados, comecei a pensar sobre isso. Será que eu não devia ir? Será que não seria importante? Não sinto vontade de ir, mas penso nas pessoas que são ligadas a nós. A família do Amaral é muito de ir no cemitério “visitar” os parentes e penso se, pela minha sogra, eu não deveria ir até lá, arrumar o túmulo, colocar umas florzinhas, deixar arrumadinho, porque pra ela, lá é onde ele está.

Não sei, sinceramente não sei. Ontem conversei com o Amaral sobre isso e ele me disse que acha que isso não é importante. Ele também não sente vontade de ir, não sei se porque acredita na mesma coisa que eu ou se é só pelo fato de não ser um lugar agradável... Pra nós, cemitério é só um lugar de lembranças tristes e dor, muita dor.

Quando eu quero lembrar do João Pedro (como se eu pudesse “escolher” quando pensar), ou seja, o tempo todo, eu penso nele com amor. Tento lembrar apenas das coisas boas que vivemos, mesmo com ele dentro da minha barriga. As coisas ruins eu não quero lembrar, e ir no cemitério, não tem escolha, só vai me fazer lembrar das coisas ruins.

Minha mãe tem na casa dele uma roseira branca que ela plantou pra ele. A roseira tá linda, cheia de botões. Essa é a forma que ela usa pra lembrar ou homenagear ele. Não sei se ela já voltou no cemitério depois que tudo aconteceu, nunca perguntei, porque esse é um assunto que eu gostaria de nunca mais ter que lidar...

Com certeza vai ter gente pra dizer que eu sou desleixada, que nunca arrumei ou levei uma florzinha pra ele. Mas eu não tô nem aí pra o que as pessoas pensam ou dizem. Eu não preciso ir num lugar de pedra levar um vaso de flores se na minha casa terá um jardim inteiro pra ele. É tudo uma questão de crença, de ponto de vista, de decisão ou até mesmo de gosto. E eu decidi: EU NÃO QUERO IR NO CEMITÉRIO.

Hoje o João Pedro estaria fazendo 11 meses, e é difícil conseguir não lembrar, na verdade é difícil todos os dias, mas em datas especiais fica mais complicado ainda. Ainda mais coincidindo com o dia de finados, que naturalmente é um dia dedicado a lembrar dos que já se foram (que coisa mais estranha, um dia pra sofrer!!!). E pra evitar que minha cabeça ficasse só pensando nisso, resolvi que ia trabalhar. Enquanto todo mundo tava curtindo um dia de folga ensolarado, eu estava no trabalho, sozinha, de cabeça baixa, rendendo 110%.

É assim, o negócio é manter a mente ocupada, mesmo que seja cansativo.

Meu filho sabe, que mesmo não indo no cemitério, eu não deixo de pensar nele um segundo e que nossos laços estão unidos pra sempre, (mesmo que vivendo em planos diferentes) o amor que nos une navega por estes dois planos e nos faz sentir muito próximos. Eu sinto isso.

Hoje, como estava sozinha, trabalhei ouvindo música e a primeira música que ouvi me tocou muito. Prestei atenção em apenas uma parte, pois depois disso fui tomada por uma emoção fortíssima, um arrepio e em seguida uma sensação de paz. Deixo aqui a letra da música em homenagem ao meu amado filho e me faço a seguinte pergunta, que na verdade já sei a resposta: é preciso ir ao cemitério pra sentir ele junto de mim???

Versos Simples
Chimarruts

Sabe, já faz tempo,
Que eu queria te falar,
Das coisas que trago no peito.
Saudade,

Já não sei se é a palavra certa para usar
Ainda lembro do seu jeito.
Não te trago ouro,

Porque ele não entra no céu,
E nenhuma riqueza deste mundo.
Não te trago flores,
Porque elas secam e caem ao chão.
"Te trago" os meus versos simples,
Mas que fiz de coração.

2 comentários:

  1. Aff Grayce até nisso somos iguais... Como pode??? Quando era pqna também me arrastavam pra esse programa (q eu chamo de programa de indio) e nos domingos minha mae também me arrastava pra la... Adorava ficar vendo os tumulos dos conhecidos e lembrando dq tinham morrido (vai entender)... Então cresci e como tu aboli o programa de indio da minha vida... (até então tinha lá meu avô por parte de pai e minha avó por parte de mãe q eu nem se quer conheci e um primo que faleceu com 12 anos e eu era mega pqna e pouco lembro dele) então morreu minha avó por parte de pai (mas eu nao era mt ligada a ela) e anos depois morreu meu avô por parte de mãe (esse eu era bem ligada, mas msm assim o programa de índio nao voltou a fazer parte da minha rotina, sempre lembro de uma coisa q ele dizia... Ele nao ia a enterros e velórios e dizia q nao ia pq o morto nao estaria no dele hahahahaha). Mas então morreu meu pai, nossa, achei q morreria junto... Fiquei dias e dias indo ao cemitério (sentava no chao ao lado do tumulo e lá eu conversava, chorava, ria, quem via devia me achar doidona). Sei que meu pai continua vivo em mim e nao preciso ir la... Mas me sinto tri bem estando lá ao lado de onde ficaram os restos mortais dele... Nunca fui lá em dia de finados (q data inutil essa), e a ultima vez q estive la foi alguns dias antes da C nascer, fui pedir ajuda (como se precisasse pedir). Minha mae tdo ano faz aquela ladainha comigo e meus irmãos (nenhum compactua com esse ritual)e ela acaba indo sozinha msm... Nunca levei flores... Meu pai nao curtia flores, na orta dele tinha verduras, se fosse pra levar alguma coisa teria q levar um pé de alface hehehehehe e aí sim me achariam doidona... Cada um pensa de um jeito... Cada um faz oq é melhor pra sim... Imagino tdo que passa na tua cabeça penando em ir até la, pois tda vez q estou com meu pai lembro de tdo que ele passou... no começo doia mto, mas com o tempo vai amenizando... Estou acompanhando o diário da C e esta se aproxiamndo o dia q nos conhecemos... dia 17 de novembro... Imagino como estão sendo os teus dias amiga... Fique bem e qq coisa q precisar é so chamar!!! Beijao

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  2. Ossa, eu também penso assim, e as pessoas acham muito estranhas isso. Eu vou as vezes no cimetério em datas importantes porque sou obrigado, mas por mim não ia. Quando for morar fora, não vou vir mais. Frequento espirita e é muito bom. Obrigado por me ajudar, e a saber como tem gente que pensa assim como eu!

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