quarta-feira, 7 de setembro de 2011

Vivendo um dilema

Depois da passagem desse furacão que veio destruindo a minha vida, estou tentando juntar os pedaços e me refazer. Posso dizer que estou conseguindo, mas nem de longe dá pra dizer que é fácil. Sem sombra de dúvidas esses últimos meses são os piores que já vivi dentro dos meus quase 29 anos.

Não lembro de ter passado em momento algum por situações tão dolorosas quanto as que passei ultimamente. Perdi meus avós, terminei relacionamentos, e na ocasião parecia que ia morrer de tanto sofrimento. Hoje vejo que tudo aquilo não era nada perto da dor de perder um filho. Isso sim parece o fim, e de certa forma é o fim.

Sinto como se a minha vida tivesse sido atropelada, se parte de mim tivesse sido arrancada e a parte que resta tem que viver com as deficiências que esse trauma deixou. Só que essa parte que resta, tem que fazer um esforço em dobro pra poder superar as dificuldades e tentar levar uma vida perto de uma vida normal.

Aparentemente, hoje eu levo uma vida normal. Algumas vezes acredito sim que seja uma vida normal, mas de vez em quando, uma nuvem escura para em cima de mim e os piores tipos de sentimentos tomam conta dos meus pensamentos e fica quase impossível sair debaixo desta nuvem, até porque quando me dou conta disso, já é tarde. E isso andou acontecendo nos últimos dias...

Já faz algum tempo que uma dúvida paira a minha cabeça: Doar ou não as roupinha do João Pedro?

Uma vez postei no blog do João Pedro uma situação que aconteceu que eu considero uma experiência de contato com o plano espiritual. Estava em casa, mexendo nas roupinhas dele e fui tomada por uma forte emoção. Pedi um sinal a ele, para que ele me dissesse o que eu devia fazer com aquelas roupinhas, se era para doar ou se ele voltaria ou mandaria um irmãozinho. Guardei as roupas em uma sacola e mais tarde, quando fui pegar, vi que estava escrito JOÃO na sacola. Interpretei isso como um “essas roupinhas são do João, e não é pra dar elas ainda”. Pronto, guardei e nunca mais mexi.

Porém venho lendo muitos livros sobre espiritualidade, sobre o apego às coisas materiais e todos eles sugerem que é bom tanto para os encarnados quanto para os desencarnados que haja o desapego do material. Isso favorece o desligamento, a desobsessão e ajuda os seres a seguir seus caminhos independente de qual plano estejam vivendo.

No início isso nem me passava pela cabeça, porque eu pretendia ter outro bebê logo. Mas como aconteceu tudo aquilo, e hoje não temos mais previsão de quando vamos tentar novamente, tenho pensado muito em doar as coisinhas que seriam dele pra as crianças necessitadas. Mas confesso que isso não me deixa a vontade.

Um dia tive um sobressalto e resolvi que daria as fraldas. Afinal, eu tinha um estoque de fraldas em casa que estavam só ocupando espaço e que logo perderiam a validade. Então dividi entre duas famílias. Umas pra sobrinha de uma amiga, que é a 4ª filha de um casal bem jovem, que estavam aceitando doações, visto que bancar 4 crianças não é nada fácil. Outras eu dei pro afilhado de outra amiga, um menino que nasceu prematuro, tem necessidade de leite especial e os pais estão desempregados. Sem sobra de dúvidas que estas fraldas seriam muito úteis.

A decisão de doar as fraldas foi tomada de uma hora pra outra, mas confesso que na hora de entregar, me deu vontade de dar um passo pra trás, mas aí já era tarde. Então fechei os olhos e tentei não pensar muito. Entreguei os pacotes com um nó na garganta, mas certa de que estava fazendo a coisa certa.

Ufa, consegui. Foi difícil, mas aconteceu. E só o fato de não ver mais aquela pilha de pacotes de fraldas lá em casa já dá um certo alívio.

Só que agora tem as roupinhas. Minha consciência diz que seriam muito úteis à crianças carentes, mas meu coração diz que são as roupas do meu filho, que ele nem chegou a usar e que não é qualquer pessoa que terá esse merecimento. Parece uma coisa egoísta, maldosa até, mas fazer o quê se é isso que eu sinto????

Queria que a criança que fosse usar aquelas roupinhas pudesse receber o mesmo carinho que o JP receberia. São roupinhas compradas pelas dindas, pelas avós, pelas pessoas que o amavam, então tem uma dose extra de carinho que foi dedicado exclusivamente a ele quando foram compradas. Era no João Pedro que elas pensaram quando olharam as roupinhas na loja. Era imaginando ele com aquela roupa e não qualquer outra criança.

Muito estranho esse sentimento, e confesso que me envergonho um pouco disso.

Eu queria dar as roupinhas dele, pra uma criança que eu soubesse que a mãe seria caprichosa e que teria o mesmo carinho e cuidado que eu teria com elas. Queria que quem fosse usar aquelas roupinhas fosse uma criança que também é amada por nós e que fosse usufruir do carinho e sentimento que envolvem aquelas roupas. Queria dar pra alguém conhecido, mas também não sei como me sentiria depois, vendo uma criança usando as roupinhas dele. Sei lá, são tantos sentimentos conflitantes.

Cheguei a cogitar a hipótese de dar algumas roupinhas pra uma amiga da minha cunhada. Essa menina teve uma história muito triste, também perdeu um menino que nasceu com 6 meses mas não resistiu e agora, 5 anos depois teve outro menino. Eu sei que minhas cunhadas, dindas do JP, têm por essa criança o mesmo carinho que elas tinham pelo João Pedro, então esse bebê receberia o carinho delas duplamente. Mas quando comentei isso, tanto minha cunhada quanto meu marido acharam que não seria oportuno, visto que não era pra uma família que realmente precisasse.

Pra mim, a questão de dar as roupas está muito mais ligada ao sentimental, como se fosse uma extensão do amor ao João Pedro a outra criança do nosso convívio, e pro Amaral a questão é necessidade.

Ele não é a favor de simplesmente nos desfazermos das roupinhas do JP. Ele acha que devemos deixa-las guardadas, até porque onde estão não estão atrapalhando. A opinião dele é que só devemos dar se surgir uma oportunidade casual, de aparecer alguma família necessitada. Fora isso, devem ficar guardadas, esperando o dia que tivermos outro filho e que este sim, usufruirá de todo o sentimento de carinho e amor que cada peça de roupa tem.

Não me incomoda o fato de saber que as roupas estão lá em casa. Estão guardadas dentro de caixas, dentro de um roupeiro que fica no quartinho, ou seja, eu não vejo. Talvez se eu visse toda hora, isso ficasse me trazendo lembranças e aí sim poderia me incomodar. Minha família pensa como o Amaral, e me incentivam a deixar tudo guardado.

Esse foi o assunto principal da minha terapia essa semana. Eu não sei o que faço, e estou sofrendo muito com isso. São sentimentos tão opostos bagunçados dentro da minha cabeça que não me deixam tomar uma decisão sana. E além disso tem uma coisa minha que é a auto cobrança. Eu não admito errar, me cobro incessantemente quando algo não dá certo, e sofro quando não consigo colocar as coisas nos eixos. Não consigo admitir o fato de eu não conseguir tomar uma decisão quanto a este assunto. Eu cobro de mim mesma que eu tenho que ser exemplo, que eu preciso estar bem e fazer as coisas com consciência, mas não estou conseguindo ser racional e consciente neste assunto e isso está me atormentando.

Na terapia o meu psicólogo me disse que eu não devo exigir tanto de mim, não me cobrar e não me culpar por estar confusa. Que eu devo deixar o tempo se encarregar de resolver essas coisas. Só que esse autocontrole é mais forte que eu. Talvez seja por causa disso que eu “pareço” estar me recuperando bem, por que eu me cobro isso todos os dias.

Exijo de mim mesma que eu tenho que ficar bem, só que este assunto das roupinhas ainda é uma incógnita pra mim. Um dia decido uma coisa, no outro volto atrás, aí fico pensando e repensando, tentando definir alguma coisa, mas com isso só consigo é mais angústia e indefinição. Aí de vez em quando aparece alguém que me pergunta o que eu fiz com as roupas e quando respondo que estão guardadas, fazem aquelas caras de reprovação e criticam me condenando por estar “prendendo” o JP aqui na Terra. Aí penso mais um pouco, e resolvo que vou doar, mas não consigo. Daí vem outra pessoa e me diz que não tem que doar, que tem o sentimento, que não preciso me precipitar e aí de novo eu volto atrás.... Meu Deus, isso é uma coisa impossível de lidar.

Parece que se eu der todas as roupinhas dele, vou estar tirando de vez ele da minha vida. E não quero isso. Por mais que tenha sido doloroso tudo isso, não quero esquecer dele jamais, não quero tirar ele da minha vida, nem fingir que nada aconteceu. Até porque isso seria impossível.

Então estou eu nesse dilema, sem saber o que fazer, sem saber como agir, sofrendo por não conseguir tomar uma decisão. Só o que posso fazer é rezar e pedir a Deus que me oriente a seguir o melhor caminho.

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