quarta-feira, 21 de setembro de 2011

A semana acabou

Enfim... a Semana Farroupilha acabou, e com ela acabou também uma grande angústia minha.

Já havia falado aqui no blog sobre meu envolvimento com o tradicionalismo. Ano passado, nesta época eu estava grávida e cheia de expectativas pro nascimento do meu filho, que seria só em janeiro. Todos o nossos conhecidos que me viam vinham perguntar do bebê, queriam saber o que era e sempre falávamos que no próximo ano ele estaria lá no acampamento com a gente usando sua bombachinha. Só que infelizmente não foi isso que aconteceu.

Chegou então a Semana Farroupilha deste ano. Como esse evento acontece apenas uma vez no ano, muitas pessoas que conheço vejo apenas nessa época, então eu estava muito apreensiva em como seria quando as essas pessoas viessem me perguntar sobre como meu bebê estava. Tinha certeza que muita gente não sabia de nada e deixariam escapar um “e como tá teu nenê?”

Semana passada aconteceu algo parecido quando fui à confeitaria na esquina do meu trabalho. Cheguei no caixa pra pagar e a menina me perguntou “e teu nenê, como vai?” Eu gelei. Como ela podia saber que eu tive um bebê se nunca estive ali enquanto estava grávida e nunca falei sobre esse assunto na confeitaria???? Respondi pra ela sem dar muita bola “eu não tenho nenê”, e eis que ela insiste “ah, ele já deve tá grandinho né, quantos aninhos ele tem?”. Pensei que ela só podia estar me confundindo com alguém. Insisti pra menina dizendo que eu não tinha filhos e então ela me pergunta “mas e aquele da fotinho na tua carteira?” Putz.... eu nunca falei nada pra ela, mas provavelmente alguma vez que fui pagar a conta ela reparou na fotinho que tenho do dia do nascimento dele.

Eu devo ter ficado de todas as cores possíveis e respondi pra ela apenas que eu tinha perdido meu bebê logo que nasceu e ela me desejou que eu tivesse outro logo. Apenas sorri, peguei minhas coisas e fugi dali meio zonza, perdida com tudo aquilo. Já fazia tempo que isso não acontecia e eu não esperava por isso. Na verdade no início as pessoas vinham me perguntar de curiosidade o que tinha acontecido, mas essa menina não sabia de nada, ela foi totalmente inocente querendo ser simpática e fazer um agrado.

Já pra Semana Farroupilha, eu meio que estava esperando que as pessoas me perguntassem, mas eu tinha medo de como eu acabaria lidando com isso, de ter que explicar e ficar justificando as coisas.

Então chegou o dia 13 de setembro, dia da abertura do evento na minha cidade. Estavamos saindo de casa, quando olhei pro céu e vi uma linda lua cheia iluminando a noite. Eu tenho uma “simpatia” pela lua cheia, pois já aconteceram várias situações em sonhos meus em que a lua e o João Pedro estão relacionados. Pra mim é como se ele usasse a lua cheia como um símbolo pra me mostrar que está presente. Coisas de mãe....

Saí de casa e quando vi a lua fiz uma oração por ele e disse em pensamento que se ele tivesse permissão, eu adoraria que ele estivesse indo passear com a gente. Não pude deixar de me emocionar, mas tentei disfarçar pro Amaral não perceber. Fomos buscar os nossos amigos inseparáveis (Vivi e Eder) e assim que a Vivi entrou no carro eu perguntei se ela tinha visto a lua, e ela com o olhar de que estava entendendo tudo, me disse sorrindo “eu percebi”. A Vivi era uma das dindas dele, e a nossa relação é muito mais que de amizade, somos como irmãs, muito ligadas uma à outra e percebemos tudo que está no ar.

Chegamos então no local onde era o evento. Meus pais já estavam lá acampados com o pessoal do piquete, e nós fomos direto pra lá com eles. Como tinha muita gente no parque, optamos por ficar no piquete o tempo todo, pra não precisar andar no meio daquela gentarada. Eu achei ótimo, assim eu não ficava tão a mostra e diminuía muito as chances de eu encontrar alguém que viesse me perguntar alguma coisa. Sei que a minha atitude não foi correta, que eu não devia querer me esconder, mas eu não queria ter que passar por essa situação.

Ficamos um tempão ali com o pessoal do piquete, lá todos já sabiam o que tinha acontecido e ninguém tocou no assunto. De vez em quando me vinha na memória situações do ano passado, me relembrava dos planos que tínhamos feito de estar como ele ali, das coisas que tínhamos conversado e me dei conta que o tempo passou muito rápido.

Mais tarde teria o show de abertura que era no palco principal. O cantor era o Daniel Torres, que canta músicas nativistas maravilhosamente bem. Quando deu a hora do show, eu convidei nossos amigos pra irmos lá pro palco pra assistir, e quando chegamos lá, o Daniel Torres já estava começando o show, e lembro apenas de ter ouvido ele falar que cantaria uma música que é sempre muito pedida: Guri.

Pronto, quando ele anunciou que cantaria essa música, eu já senti um frio na espinha. Quando eu estava grávida, o Amaral falava pertinho da minha barriga dizendo que quando o João Pedro nascesse ele queria muito poder dizer “saiu igualzito ao pai”. Pra quem é tradicionalista, sabe que essa música é como um hino, uma marca da tradição gaúcha e do orgulho de um pai em ter um filho homem e este honrar a tradição “igualzito ao pai”. O João Pedro era a cara do Amaral e da forma como pretendíamos educá-lo, possivelmente ele seria um tradicionalista também, nosso gauderiozinho. Lembro da primeira vez que ouvi essa música depois que tudo aconteceu, eu chorei muito, pois não tinha dado tempo do Amaral dizer isso pra ele.

Então começou aquela música, naquela voz maravilhosa, a noite estava linda iluminada por aquela grande lua cheia, tinha um clima muito forte e eu não suportei. Não consegui segurar as lágrimas, assim como não estou segurando agora escrevendo este post. O Amaral percebeu o que estava acontecendo e apenas me abraçou. Nossos amigos entenderam o motivo do meu choro, sem precisar eu falar nada, e apenas ficaram do nosso lado, em silêncio. Depois disso, o Amaral achou melhor irmos embora e eu aceitei na hora, pois não queria ficar ali chorando num lugar que era de festa. Pra mim não tinha dúvidas, todas aquela “coincidências” (a lua, a música, o clima...) eram sinais de que ele estava com a gente, mesmo que apenas no nosso coração.

Fiquei apreensiva, com receio de voltar nos outros dias da festa. Mas voltamos outras vezes e a cada dia, essa apreensão ia diminuindo até que percebi que esse era um receio bobo. É claro que as pessoas que não soubessem o que tinha acontecido e fossem me perguntar, não fariam isso por maldade, e quem já sabia, não tocaria nesse assunto tão delicado num local de festa. Tá certo que existem pessoas sem noção, mas não foi o caso.

Ninguém me perguntou nada, ninguém ficou me olhando com cara de pena, ninguém ficou cochichando enquanto eu passava, ninguém fez nada. Eu é que tinha enfiado um medo na minha cabeça e estava me bloqueando por isso. Pelo menos passou. Com certeza não foi como eu esperava, mas dentro do possível, foi muito boa a comemoração da semana mais gaúcha dos Gaúchos.

Passei por mais essa, e saí ilesa, apenas com as marcas da saudade, que essa, vai ser eterna.

Quem não é daqui, ou mesmo quem não é tradicionalista, não vai entender bem a letra dessa música, mas mesmo assim resolvi colocar. Segue também um link de um vídeo dessa música, interpretada por Cesar Passarinho ao som de Renato Borghertti.
Guri



Das roupas velhas do pai queria que a mãe fizesse
Uma mala de garupa e uma bombacha e me desse
Queria boinas e alpargatas e um cachorro companheiro
Pra me ajudar a botar as vacas no meu petiço sogueiro
Hei de ter uma tabuada e o meu livro querer ler
Vou aprender a fazer contas e algum bilhete escrever
Pra que a filha do seu Bento saiba que ela é meu bem querer
E se não for por escrito eu não me animo a dizer
Quero gaita de oito baixos pra ver o ronco que sai
Botas feitio do Alegrete e esporas do Ibirocai
Lenço vermelho e guaiaca compradas lá no Uruguai
Pra que digam quando eu passe “saiu igualzito ao pai”
E se Deus não achar muito tanta coisa que eu pedi
Não deixe que eu me separe deste rancho onde nasci
Nem me desperte tão cedo do meu sonho de guri
E de lambuja permita que eu nunca saia daqui

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