quinta-feira, 15 de setembro de 2011

Um dilema resolvido

Realmente, nada é por caso.

Quem me conhece e acompanha o blog sabe que nas últimas semanas eu estive muito angustiada com relação à doar ou não as roupinhas do João Pedro. Depois que postei o assunto no blog, duas amigas me mandaram e-mails dando suas opiniões, uma dizia pra dar, outra dizia pra não dar, mas as duas justificavam suas opiniões, eram convincentes e me convenceram. Mas como resolver o impasse, se continuei concordando com as duas opiniões?

Então resolvi que deixaria o tempo agir. Que deixaria esse assunto descansar e quando fosse pra resolver, seria resolvido. Na maioria das vezes foi assim que resolvi minhas angústias. Porém não imaginei que a solução viesse tão rápido: apenas uma semana depois.

Sábado passado, quando estávamos em função da obra lá de casa, eu estava conversando com um dos pedreiros, o conheço à bastante tempo e sei que sua esposa está grávida, então eu perguntei pra quando era o bebê deles, e ele me disse que já deve estar nascendo, aí perguntei se eles sabiam o que era e ele me disse “um guri. Depois de 3 gurias, veio o gurizinho pra fechar a conta”. Quando ele me disse isso, foi como se uma nuvem estivesse se abrindo na minha frente e algo me dissesse: chegou a hora.

Chamei o Amaral num cantinho e perguntei o que ele achava de darmos algumas roupinhas pra eles. O Amaral quis saber como eu estava me sentindo, e disse que se isso fosse me fazer bem, que ele não via problema algum. Então de repente senti uma alegria, uma vontade imensa de dar aquelas coisinhas pra eles.

Fui pro meu quarto e fiquei lá sozinha. Peguei as caixas onde tudo estava guardado e comecei a separar. O que era branquinho, eu guardei, pois também poderá ser usado por uma menina futuramente. Guardei também uma peça de roupa que foi presente de cada dinda e de cada avó. Guardei também alguns sapatinhos, e toalhinhas de boca bordada, mas o resto, fui colocando tudo dentro de uma sacola. Tiptops, roupinhas de baixo, meias, pantufinhas, fraldas de pano, travesseiros, conjuntos de berço, toalhas de banho, kit de higiene, cabides.... tudo. Juntei tudo e coloquei numa sacola e esperei o momento certo pra entregar.

Enquanto eu estava separando, não sentia tristeza, muito pelo contrário, estava certa de que estava fazendo o melhor. Mas quando peguei a toquinha que ele usou no hospital, isso sim me doeu. Essa eu nunca vou me desfazer. Essa foi a única peça que realmente foi dele, que teve o toque de pele dele e que ficou com o cheirinho dele, embora esse cheirinho já tenha saído e tenha sido substituído pelo cheiro de roupa guardada, mas ainda assim, peguei aquela toquinha e cheirei ela na tentativa de me recordar um pouquinho do tempinho que estive com ele nos meus braços, mesmo sem vida, e aí não consegui segurar as lágrimas. Nessa hora o Amaral entrou no quarto e me abraçou forte até eu ficar calma e poder voltar a mexer naquelas coisinhas.

Uma coisa que me chamou a atenção, foi que na primeira vez que mexi nas roupinhas, logo que tudo aconteceu, eu olhava pra elas e sentia que tudo aquilo tinha uma valor muito grande, que eram lindas de mais pra eu entregar pra alguém, só que desta vez, eu olhei e percebi que tudo aquilo que eu estava doando, eram coisinhas tão simples, tão baratinhas, que sem dúvidas eu terei condições de comprar tudo de novo, e quem nos presenteou poderá presentear novamente se quiser. Foi estranho, mas percebi que na verdade era uma bobagem eu ficar guardando tudo aquilo e que tinha alguém que precisaria muito mais que meus futuros filhos.

Quando estávamos indo almoçar, o rapaz não pôde ficar, pois tinha um outro serviço pra fazer a tarde, então eu chamei o Amaral pra me acompanhar e juntos o chamamos pra lhe entregar a sacola de roupas. Quando fui até o quarto pra pegar, me deu um nó na garganta e uma vontade de recuar, mas eu sabia que tinha que seguir em frente. Então fiz uma oração, (aliás, rezei o tempo todo enquanto estava separando as roupas), respirei fundo e entreguei a sacola.

Quando ele viu o que tinha dentro, ficou todo agradecido, não sabia direito o que falar. O sogro dele (que é o chefe da obra e amigo da minha família), também estava emocionado. Meu pai, que me viu separando as roupinhas, estava junto e disse “Cara, essas roupinhas eram do meu netinho, mas agora vão ser do teu filhinho”. Eu não consegui segurar, e desabei, mas meu choro não era de tristeza, era por ter que estar passando por aquela situação e por estar sentindo saudade, muita saudade....

Ficou um clima estranho, todos emocionados, mas segurando pra não demonstrar e ele foi embora com a sacola de roupinhas muito agradecido.

Senti um certo alívio. De certa forma aconteceu tudo na mesma situação. Eu queria dar as roupas, mas ao mesmo tempo queria guardá-las, e aconteceu isso mesmo, dei a maioria, mas guardei algumas. Não queria simplesmente entregar num orfanato, queria conhecer quem estivesse recebendo, e foi isso mesmo, as roupas foram dadas pra uma família que conheço há muitos anos, que sei a realidade que vivem e que tenho certeza que precisam muito de tudo aquilo. E o melhor de tudo, a oportunidade apareceu dentro da minha casa, não fui eu quem fui atrás. De certa forma, o mundo deu uma volta pra fazer tudo vir ao meu encontro. Aconteceu tudo como eu queria.

Depois, voltamos ao nosso churrasco, estávamos sentados, eu, meu pai e o César, (chefe da obra, que é avô do bebê que ganhou as roupas), e meu pai mostrou pra ele a tatuagem que eu tenho no pé em homenagem ao João Pedro. Tenho um raminho de flores, e entre as flores coloquei um G (de Grayce) e um A (que tanto faz Anderson ou Amaral), aí depois que tudo isso aconteceu, aumentei esse raminho e coloquei as letras JP entre asinhas e auréola de anjinho. O César ficou encantado, achou muito bonita a tatuagem e de repente deu um estalo e perguntou “João Pedro???”. Aí eu respondi sim, esse era o nome do meu filho, e eis que ele me diz “parece que esse é o nome que vai ter o nenê deles”.

Pronto.... aí tive a certeza de que realmente tinha feito a coisa certa e de que nada acontece por acaso. Era pra essa criança mesmo que aquelas roupinhas estavam guardadas esperando o momento de eu entregar.

Mais tarde eu fiquei sabendo que o nome será apenas Pedro. Mas independente do nome que tenha, não sendo nem João, nem Pedro, nem João Pedro, que seja, José, Aparício, Leonardo ou qualquer outro nome... sei que fiz a coisa certa, na hora certa, pra pessoa certa. Não senti tristeza por me “desfazer” das roupas, não senti como se estivesse me desligando dele como eu temia, porque na verdade isso nunca vai acontecer. Percebi que ter doado as roupinhas dele pra alguém que realmente vai precisar, vai fazer um bem enorme à varias pessoas: principalmente ao bebê que vai nascer, mas também aos seus pais, aos seus avós, à mim e ao Amaral, ao João Pedro, enfim, a todos que de alguma forma estão relacionados a isso.

Aproveito aqui para agradecer às minha amigas, que se preocuparam comigo e resolveram expor suas opiniões, e a todos aqueles que estão à nossa volta dando suas opiniões, mas principalmente, nos enchendo de carinho e coragem para enfrentar essas dificuldades do dia a dia.

Um comentário:

  1. Grayce, imagino como foi dificil se desfazer das roupinhas... Nunca é facil se desapegar, ainda mais nessa situaçao... Mas com tda certeza do mundo fizeste a coisa certa. Até pq essas roupas eram a história do JP, e seu proximo filho terá sua propria historia, suas proprias roupas... Será importante pra vcs e pra ele...

    Tem mta criança necessitada nesse mundo... E vc com certeza alegrou mto a familia q recebeu as roupas.

    Parabéns pela atitude!

    Beijao

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