quarta-feira, 27 de julho de 2011

Sempre tem uma luz no fim do túnel

Escrever o post anterior não foi nada fácil. Pensei muito se contaria ou não abertamente sobre essa segunda perda. Pouquíssimas pessoas sabiam disso. Apenas nossos pais, irmãs e amigos mais íntimos. Nem todos da nossa família estavam sabendo, e não sabia como seria pra eles quando soubessem. Talvez alguns ainda nem saibam, pois não acessam internet, e como este é um assunto que não saimos falando aos quartro ventos, é bem possível que ainda se choquem se souberem.

Preferimos segurar esse notícia, justamente pelo fato da especulação. Mesmo sendo poucas as pessoas que sabiam, ainda ouvi coisas do tipo: “será que um dia tu vai conseguir ter filhos?”, “se tu perdeu era porque o bebê tinha problema”, “vcs não vão fazer um exame pra seber se não ter sempre filhos com defeito?”, “por que tu não desiste de engravidar e adota?”... É minha gente, ouvi barbariedades. Claro que sei que na verdade  as pessoas estavam preocupadas comigo e queriam ajudar, mas infelizmente, muitas vezes ao invés de ajudar, acabam criando uma situação desconfortável.

Fiquei sim muito encucada com tudo que aconteceu. Sempre soube que abortos espontâneos podem acontecer devido à alguma mal formação fetal, e era impossível não passar isso pela minha cabeça. Então, 10 dias depois, quando retornei ao meu médico para revisão, conversei muito com ele a respeito do assunto.

Ele nos explicou que as nossas duas situações de perda são casos isolados, e uma não tem nada a ver com a outra. O agravante é que ocorreram em um curto espaço de tempo, e tudo isso é traumatizante. Ele me explicou que as complicações (ameaças de aborto) que tive na gravidez do João Pedro, eram problemas físicos meus, e não do feto. Que aquilo tudo que aconteceu não era que meu corpo estivesse identificando uma mal formação, porque HDC é um tipo de mal formação que não é genética.

Ele me disse que se faz o exame de cariótipo para análise de outros possíveis problemas, já que alguns estudos comprovam que certos problemas genéticos, podem somatizar a outros e gerar mal formações como HDC. Muitos bebês com HDC têm outros problemas relacionados, mas na verdade são os outros problemas que têm a HDC relacionada. É um tanto confuso, mas ele conseguiu me explicar que a HDC pode vir sozinha, sem nenhum outro problema relacionado, e também que podem existir problemas genéticos que contribuam para a formação de HDC. Me explicou também que quando um bebê nasce, é feito uma espécie de vistoria física e clínica na criança, a fim de identificar problemas relacionados e que o João Pedro não apresentou nenhum outro problema além da HDC. Ou seja, não foi um problema genético.

Já sobre nossa segunda perda, o médico nos disse que o que aconteceu é mais comum do que se imagina. Os índices mostram quem 80% das gestações não passam da 12ª semana por N motivos ou até mesmo sem motivos, simplesmente por não evoluir, como se fosse uma receita de bolo que não tivesse dado certo. Nos falou ainda que no nosso caso, como não foi aborto espontâneo, não houve identificação de mal formação, apenas o embrião não evoluiu.

Chega até ser um disparate fazer uma comparação dessas, mas eu consegui entender melhor quando o médico associou à receita de bolo. Uma coisa é um bolo não dar certo porque foram usados ingredientes estragados, por exemplo, e outra bem diferente, é usar tudo certinho e mesmo assim o bolo não crescer. Quem nunca teve a surpresa de abrir o forno e ver que o bolo não cresceu, mesmo tendo feito tudo certinho??? A mesma coisa pode acontecer com qualquer gestação até as 12 semanas. Pode simplesmente não crescer...

Depois de conversarmos muito e receber todas estas explicações do médico, me senti um pouco melhor. Pelo menos eu soube que não é um problema da nossa ‘mistura’. O médico ainda me disse que eu deveria ficar feliz, pois muitos casais chegavam ao seu consultório e descobriam que não podiam engravidar.  E nós somos férteis, temos a chance de poder ter filhos. Só que ainda não foi desta vez.

Aí quando a ciência não explica, a fé é o que conforta.

Eu precisava me apegar em alguma coisa que me confortasse, que me fizesse acreditar que tudo que estava acontecendo tinha uma explicação. Explicação essa que a medicina não deu. Então comecei a ligar alguns fatos, e a interpretar as coisas da maneira que era mais conveniente a mim e enfiei na minha cabeça que esta gestação perdida, era o espírito do João Pedro tentando retornar e que não conseguiu.

Passei a freqüentar um centro espírita quando descobri a HDC e lá encontrei muitas respostas e principalmente muito conforto. Me dediquei mais ao estudo da doutrina e pelo que li, aprendi que é possível um espírito retornar na mesma família, inclusive na mesma mãe. (Quem se interessar pelo assunto, sugiro ler o livro “O amor me trouxe de volta” de Carol Bowman).

Diante de tudo o que estava acontecendo, acreditar que era o JP de volta me confortava muito. Com certeza temos uma ligação de amor que vem de outras vidas, e a dor que eu sinto pela falta dele é tão grande, que não me deixava raciocinar direito. Eu estava sofrendo a perda recente de uma gestação mas ainda não tinha nem curado o sofrimento da perda do meu filho há 6 meses. Tudo aquilo era muita coisa pra mim. Era um turbilhão de sentimentos que mexiam de mais com meu emocional e eu achei que realmente pudesse estar ficando louca.

Não é fácil admitir isso abertamente, mas quem já perdeu um filho, sabe o que passei (e ainda passo). A gente fica mesmo enloquecida.

O Amaral conversava comigo e tentava me alertar que eu podia estar me iludindo, mas eu não aceitava pensar diferente. Era confortante pra mim, pensar que o meu filho estivesse buscando por mim mais uma vez. Só que com o passar do tempo, isso foi ficando insustentável. Só o fato de pensar que ele tentou retornar não adiantava mais, eu precisava saber por que não tinha dado certo. O que eu tinha feito pra receber o castigo de não poder ter meu filho comigo???? Entrei numa neura tão grande, que um dia, em casa, assistindo novela, vi uma cena em que o personagem no Lázaro Ramos chorava emocionado ao lado do bercinho do seu filho, jurando pra ele que seria um bom pai e que o amaria pra sempre. Vendo aquela cena, me revoltei pensando no ‘porque eu não posso ter o meu filho aqui pra poder jurar pra ele as mesmas coisas?’.

Naquele dia eu pensei que fosse morrer de tanta dor e sofrimento, e na verdade era isso mesmo que eu queria. A tentação passa muito perto quando estamos desesperados.... O Amaral chorava junto comigo e lamentava dizendo que não sabia mais o que fazer pra tentar me ajudar. Ele me falou coisas lindas, sobre minha força e minha garra, mas nada daquilo servia pra me colocar de volta ‘no mundo’. Com toda a calma e paciência que lhe é nata, o Amaral foi conseguindo me acalmar, me tranqüilizar até que voltei à realidade e então ele me implorou que eu buscasse ajuda profissional.

Ele nunca foi a favor de psicólogos ou psiquiatras, sempre achou que qualquer pessoa era capaz de controlar seus sentimentos, mas diante de mim naquela situação, e vendo que não conseguiria fazer mais nada por mim, ele acabou se rendendo e me pediu pra procurar auxílio de um terapeuta.   

Consegui indicação de dois nomes com uma colega de trabalho que também freqüenta o mesmo centro espírita. As duas indicações que ela me deu são de profissionais que trabalham com psicoterapia voltada ao equilíbrio mental e espiritual. Achei muito interessante, pois só conhecia aqueles profissionais que te mandam falar e não te dizem nada. Fiz uma consulta com cada um pra ver qual deles eu mais me agradaria e, entre custo e benefício, acabei optando por um deles que ‘casualmente’ é uma trabalhador do centro espírita que freqüento.

A terapia semanal tem sido  a minha salvação...

2 comentários:

  1. Oi Grayce!

    Que bom que vc está indo nestes encontros e que eles estão te ajudando, quero me colocar a tua disposição para, se vc quiser, ir na casa em que trabalho chamada Cavalheiros de São Jorge, fica na Vicente da Fontoura nº1405 em Porto Alegre, o telefone de lá é 32171755, tem consultas lá as quartas as 15:30 e as quintas as 20hs, se um dia tu fores me avisa por favor que eu deixo teu nome lá pra vc não esperar muito. Qualquer coisa pode me dar o grito no celular: 98629328.
    Bjinhos
    Ana Paula

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  2. Grayce realmente o povo fala d mais...

    Mas guria tenha fé q logo logo estará com teu baby lindo no colo, eu nao tenho dúvidas e tu também nao dv ter.

    E tdo q possa te ajudar e te fazer bem, siga e qq coisa q precisar estarei sempre por aki.

    beijao q fica com Deus!!

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Obrigada por comentar.
Fique atento(a), pois respondo os comentários no próprio comentário.
Abraço, fique com Deus