sábado, 30 de julho de 2011

Caindo na real

Nas primeiras consultas com o psicólogo eu já percebi que realmente precisava algo daquele tipo.

Eu tenho um marido que é um ser iluminado, que sempre me diz coisas lindas e verdadeiras e que muitas vezes consegue me trazer à realidade e me faz enxergar a vida com outros olhos e não com os olhos do desespero. Mas ter um momento com um terapeuta tem feito uma diferença muito grande. As coisas que ele me diz são na maioria das vezes coisas que o Amaral me fala, a diferença está na forma de como é falado. Não sei, não tem como explicar mas é diferente. Ele estudou pra isso, então sabe usar as técnicas pra atingir o objetivo.

Na primeira consulta ele me disse que não era ele quem resolveria os meus problemas, disse que eu mesma faria isso. Disse que ele estava ali pra me ajudar a ver esses problemas e a trata-los, mesmo que pra isso eu precisasse chorar, e levar umas sacudidas de vez em quando. E ele não me mentiu.

Eu já tinha conhecido o trabalho de alguns psicólogos, e o que sempre soube é que você chega numa sala e tem lá uma pessoa te olhando esperando que você fale. Essa pessoa está ali apenas pra te ouvir. Era isso que eu imaginei que seria, mas com o Régis, tudo é muito diferente. Ele me ouve sim, mas também fala, e fala muito. As vezes ele me fala coisas que dão uma chacoalhada na minha cabeça e me faz perceber coisas que eu jamais tinha percebido. Tudo na vida depende do ponto de vista, e é isso que acontece na terapia: o Régis me ajuda a abrir meus horizontes e ver as coisas por outros ângulos.

Tenho consciência de que ele é apenas uma ferramenta, porque quem executa a mudança sou eu mesma, mas também sei que não conseguiria mudar certas coisas sozinha.

Nas primeiras consultas saí do consultório dele chorando. Chorei muito durante a nossa hora e o principal assunto sempre foi, e ainda é, o João Pedro. Falamos muito sobre tudo que aconteceu nesses últimos meses da minha vida, ele me conta exemplos de outras pacientes (claro que sempre discreto, sem citar nomes, fala apenas das histórias pra usar como comparação).

Falei pra ele que pra mim, esta segunda gestação era o João Pedro tentando retornar. Falei tudo o que eu pensava a respeito disso e ele foi categórico em me dizer que não. NÃO É O JOÃO QUE VOLTOU.

Naquele dia achei até ele meio seco, sei lá. Claro, eu estava sendo contrariada. Tinha enfiado uma coisa na minha cabeça e me fazia bem pensar daquele jeito, então não queria admitir que a coisa podia não ser como eu pensava.

Como o Régis é médium e trabalhador do Boa Nova, ele usa durantes as seções de terapia algumas técnicas espirituais e pode até manter contato com o outro plano. Percebo algumas vezes que ele muda o tom de voz, o olhar e diz algumas coisas taxativas. Claro que eu não fico perguntando se ele está em contato com espíritos, deixo ele trabalhar livremente, mas fico observando e tentando captar as informações.

Uma das coisas que me chamou muito a atenção, é que ele sempre se refere ao João Pedro como JOÃO. Aí um dia eu falei tanto no JP que o Régis me disse “deixa eu te perguntar uma coisa: pq tu chama ele sempre de João Pedro se o nome dele é só João?” Fiquei meio assim, pensando como ele sabia. Aí contei pra ele que na verdade Pedro é meu sobrenome, então escolhemos um nome que combinasse e acabou virando João Pedro, mas na verdade Pedro era também o sobrenome dele. Então o Régis disse: “é, mas ele é João”. Achei aquilo um tanto estranho, e comecei a ligar alguns fatos: quando recebi cartas psicografadas dele, a assinatura das cartas era João. Recebi uma vez uma resposta que pedi aos céus, e a resposta veio com a descrição JOAO. Sei lá, acho que pro Régis dizer tão certo que o nome dele é João, é porque ele pode ter recebido algum sinal. Pode ser, mas independente disso, eu continuo o chamando de João Pedro, assim me soa mais familiar.

Eu já andava me sentindo melhor depois que iniciei a terapia. Toda quinta é um dia esperado, pois eu sempre saio de lá com alguma descoberta nova sobre mim mesma.

Em uma das consultas eu contei a ele sobre um sonho que eu havia tido naquela noite. Um sonho que pareceu muito real e quando eu acordei, parecia mesmo que tinha acontecido.

Sonhei que estava no meu quarto, e uma colega de trabalho estava me visitando, de repente, passou um clarão no quarto e essa minha colega pegou um pedaço de papel e me perguntou “como faço pra escrever nesse papel ´tem um vulto aqui?´” lembro que olhei pra ela e ela perguntei “como assim? Que vulto?” então ela me disse “não sei como te dizer, mas eu to vendo um vulto de criança aqui no teu quarto. Não consigo ver ele direito porque ele não é bem definido, mas sei que é uma criança” daí lembro de responder pra ela “não se assusta, deve ser o meu filho que está aqui com a gente”. Falei isso rindo e fui saindo do quarto, e quando cheguei na sala, tinha um vaso de rosas vermelhas lindíssimas no chão. As rosas estavam bem abertas e exalavam um perfume maravilhoso. Fui em direção ao vaso para pegá-lo e quando toquei no vaso me acordei.

Acordei ainda sentindo o cheiro das rosas. Estava meio dormindo, meio acordada e fiquei me perguntando “foi realmente um sonho?” “será que o Amaral me trouxe flores e não vi?”. Dei um salto da cama e fui direto na sala procurar as rosas, aí então me deparei com a sala da minha casa bagunçada, como a realidade, e percebi que havia sido sim um sonho.

Quando terminei de contar pro Régis sobre o sonho, na mesma hora ele me perguntou “a que filho tu tava te referindo?” e eu respondi “ao João Pedro, claro”. Aí ele me disse que achava que estava na hora de eu perceber que existe um outro ser em minha vida. Comecei a achar meio estranha aquela conversa, mas ele seguiu falando e me disse “Grayce, pra mim está muito claro, esse ‘sonho’ não foi um sonho, isso aconteceu. E esse vulto que a tua colega viu não era o João, era esse bebê que tu perdeu”. Quando ele disse isso, eu me arrepiei toda e comecei a chorar e perguntei pra ele o que ele tava querendo dizer. Então ele me respondeu que pelo entendimento que ele tem da doutrina espírita, ele sabe que realmente um espírito pode retornar na mesma mãe, mas que isso não acontece assim tão rápido, e que o João Pedro precisa ficar um tempo no plano espiritual pra se recuperar e um dia quem sabe poder voltar, não necessariamente em mim. Enquanto ele ia falando isso, eu me desmanchava chorando. Ouvir que não era o meu João Pedro estava me doendo de mais.

O Régis fez uma pausa, me deixou chorar, e então olhou pra mim e perguntou “tu gostaria de ver os TEUS filhos sofrendo?” eu só consegui sacudir a cabeça negativamente e ele continuou “pois é, ELES também não querem te ver sofrendo. Tanto não querem que um deles veio te ver e te trazer flores esta noite”. Quando ele falou aquilo, foi como se uma tempestade tivesse se desfeito na minha frente. Foi como se eu estivesse em frente a um paredão, e esse paredão fosse se abrindo e por trás dele fosse aparecendo uma linda paisagem, e essa imagem me transmitia muito amor e felicidade. Foi como se tivessem me jogado um pozinho mágico e automaticamente eu fosse me curando de algum mal. Não sei como descrever a sensação que senti, só sei que meu coração se abriu e eu pude sentir amor em dobro.

Chorei muito, e então o Régis me disse “Grayce, o teu bebê te ama, tu não sabe quem ele ou ela é, mas tenha certeza de que durante algumas semanas existiu dentro e ti um ser que é ligado a vocês, e este ser veio no teu sonho pra se fazer presente, pra te dizer ‘oi mãe, eu também tô aqui, eu também te amo’. Ele quer que tu saiba que ele também está sempre perto de ti.”

Eu fiquei em choque com tudo aquilo. Realmente eu precisava dessa sacudida, precisava cair na realidade e ver que a gravidez do João Pedro era uma coisa, e essa segunda gravidez era outra. Nunca ninguém tinha falado comigo como ele falou. Quando ele usou o termo “TEUS filhos”, foi tão forte, que eu pude perceber que não era só um, que eram dois. Meu Deus, eu ‘tive’ dois filhos, consequentemente, ‘perdi’ dois filhos. Foi um baque pra mim.

Foi ótimo poder entender que eram coisas diferentes, mas ao mesmo tempo veio aquela tristeza de saber que eu também não tinha o meu segundo filho. Perder um filho é uma dor terrível, descobrir que perdeu dois então, é inexplicável. É estranho isso, pois até então eu estava tratando como se eu tivesse perdido o mesmo filho duas vezes, agora sei que na verdade foram dois filhos e duas perdas.

As pessoas do meu convívio (família) sempre me falavam que eu não devia pensar que aquela segunda gravidez era o JP, mas no fundo no fundo, todos também tratavam como se fosse ele. Tinham nesse segundo bebê a expectativa de fazer com ele a mesma coisa que fariam com o João Pedro, então tudo meio que se misturava e ninguém tinha conseguido me convencer de que eram coisas separadas.

Saí da consulta com duas sensações: feliz por ter entendido e captado a mensagem que o Régis me passou e triste por saber que havia perdido outro filho. Com esse misto de sentimentos, minha cabeça começou a trabalhar, os pensamentos começaram a fluir e logo o peso na consciência se instalou...

Um comentário:

  1. Sempre devemos ir em busca do que nos faz feliz e nos deixa de bem com a vida!

    beijao kerida e fica com Deus

    ResponderExcluir

Obrigada por comentar.
Fique atento(a), pois respondo os comentários no próprio comentário.
Abraço, fique com Deus