sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

Aprendendo uma lição

Fazia tempo que eu tava querendo escrever um fato que aconteceu, mas nunca sobra tempo.....

As coisas andam bem, tudo dentro da normalidade. Esquecer o que passou? Nunca... mas é possível viver sem sofrer. Afinal, o que passou já passou e não vai mudar, então se não há remédio, remediado está. Mas outro dia aconteceu um fato que me marcou e que achei que era importante contar aqui no blog.

Comprei uma progressiva nos sites de compra coletiva e fui me arriscar num salão de beleza que eu nunca tinha ido. Ou seja, eu não tinha a mínima intimidade com ninguém do salão. Estava sentada no meu cantinho esperando ser chamada, e enquanto isso aproveitava pra ler as últimas páginas do livro que ganhei de aniversário. Estava lendo “A Cabana”, história de um pai que perde sua filha com 4 anos de idade e se encontra com Deus na cabana onde teria sido o assassinato da menina. Já tinha recebido grandes recomendações sobre o livro, tinham me dito que era lindo e que a história fazia nos revoltarmos e nos perguntarmos porque Deus fez aquele homem sofrer tanto... Mas sinceramente, eu não aguentava mais ler aquele livro. Quando chegou na metade, se tornou insuportável, uma história repetitiva e chata. Mas como eu não gosto de ler um livro pela metade, aguentei firme até o final.

Quando a cabelereira veio me chamar, ela fez uma exclamação em tom de pergunta: “lendo A Cabana!?” e eu respondi que já estava no final, então ela me perguntou o que eu achei, e eu na mais pura sinceridade falei que estava achando um saco. Que tinham me dito que eu morreria chorando, que iria me apavorar de como aquele pai suportou tanto sofrimento mas que eu não tinha achado nada de mais. Então a cabelereira me disse que também tinha achado uma droga, que não sabe de onde tiraram que o livro era emocionante. Até achei estranho encontrar alguém que concordasse comigo, pois TODOS me disseram que era muito bom.

Comentei com ela então que talvez eu não estivesse achando tudo isso porque eu havia passado por situação igual, então nada daquele sofrimento era novidade pra mim. Aí ela me disse “ah então estamos falando a mesma língua, porque eu também passei por isso”. Pronto, entendi o que aquela conversa significava e tratei de puxar outro assunto, pois sei o quanto é dolorido pra uma mãe falar sobre essa dor, ainda mais com uma pessoa estranha.

Seguimos então conversando sobre livros, espiritismo, várias coisas e quando o assunto acabou, ela não se aguentou e teve que perguntar: “quanto tempo faz?” respondi que fazia um ano, e ela perguntou de novo “que idade tinha?” respondi que nasceu num dia e faleceu no outro, e então ela me disse bem tranquila “ah, mas se tu frequenta uma casa espírita, já deve ter entendido os motivos disso tudo”. Respondi que tentava entender, e então ela me disse “faz 5 anos que minha filha morreu, ela tinha 17 anos, o namorado matou”. Nossa quando ela me disse isso, me deu um calafrio, um sensação tão ruim, e por um momento imaginei que deveria ser mais dolorido quando um filho nos deixa já adulto, depois de ter convivido juntos....

Não sabia bem o que dizer quando ela falou isso, então iniciei falando “quando perdi meu filho...” e ela imediatamente me cortou e disse: “aí tá uma coisa que tu precisa mudar se tu quiser te curar. A gente só perde aquilo que um dia nos descuidamos. Eu nunca vou dizer que perdi a minha filha, pois a coisa que eu mais fiz nesse  mundo foi cuidar dela pra que ela ficasse comigo. A gente só perde um brinco se descuidar da tarraxa. Então nunca diz que tu perdeu teu filho, pois eu aposto que tu fez de tudo pra cuidar dele.”

Diante disso o que eu poderia dizer? Concordei com ela e fiquei quieta, pensando no que ela tinha me falado. Quando o Amaral foi me buscar, entrei no carro e contei pra ele sobre isso e ele parou pensativo, me olhou e disse que isso era a mais pura verdade. E que realmente nós não perdemos nosso filho, pois fizemos de tudo pra que ele pudesse ficar aqui. Não perdemos também a segunda gravidez... ela foi interrompida, pois o que mais fizemos foi tomar cuidado para que tudo desse certo.

Depois fiquei pensando em como as coisas acontecem.... Eu estava num lugar desconhecido, com pessoas desconhecidas e saí de lá com uma lição de moral, um aprendizado que tocou lá no fundo e de certa forma foi até apaziguador o que aquela mulher me disse, porque querendo ou não, sentia uma certa culpa por tudo o que aconteceu... por não ter conseguido impedir.

Sei que depois daquele dia, nunca mais usei o termo “perdi” e nunca mais vou usar, afinal, eu não descuidei um só instante. Tudo que aconteceu foi inevitável. A maior prova de que eu não tenho o controle de tudo e nem posso mudar aquilo que já está traçado.

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