terça-feira, 16 de agosto de 2011

Um dia dos pais incompleto

Sem sombra de dúvidas esse dia dos pais não foi como a gente sonhou um dia.

No dia dos pais do ano passado eu estava grávida e um dia antes o Amaral tinha feito uma cirurgia, então passamos aquele dia no hospital, com ele ainda meio grogue por causa dos efeitos da anestesia. Mas mesmo assim foi um dia especial. Todos que foram visita-lo desejaram Feliz dia dos Pais, inclusive médicos e enfermeiras. Naquela época, fazíamos planos de como seria nosso próximo dia das mães e dia dos pais.

No dia das mães deste ano a tristeza parecia menor, porque naquele dia estávamos dando a notícia pra nossa família que um novo bebê estava a caminho. Havia uma expectativa, uma chance de um recomeço, uma esperança de que dias melhores viriam. Mas infelizmente aconteceu tudo que todos já sabem...

Então veio se aproximando o dia dos pais e eu fui ficando angustiada. Como fazer esse dia ser agradável pro Amaral sem entrarmos num clima triste????

Convidei nossos familiares pra fazermos o passeio de Maria Fumaça em Bento Gonçalves, e todos toparam. Comprei os ingresso antecipados e estávamos só aguardando o domingo.

O Amaral é super centrado, ele sempre me ajudou a tentar sair do desespero que eu ficava por causa de tudo isso que aconteceu com a gente. Ele sempre foi muito forte, sempre tratou a coisa com consciência, nunca se deixou abalar, mesmo eu sabendo que ele também sofria. Ele estava se mostrando bem, forte, e que aquele dia dos pais seria apenas mais um, mas no meu íntimo, eu tinha medo. Medo de ele estar sufocando um sentimento, medo uma hora ele acabar explodindo.

Assim que passou a meia noite de sábado pra domingo, eu o abracei e disse que sonhava outra coisa praquele dia dos pais, mas que diante de tudo, eu só podia abraça-lo e estar com ele. Ficamos abraçados, choramos um pouco, conversamos sobre os últimos acontecimentos na nossa vida e então eu lhe dei um bilhetinho que escrevi desejando Feliz dia dos Pais e relembrando um fato que nos marcou.

Durante a semana, tivemos uma experiência no centro espírita que nos fez sentir muito a presença do João Pedro em nossa vida e reforçou muito o amor que existe entre nós. Até então somente eu sentia, somente eu recebia os sinais do plano astral, mas desta vez o Amaral é que recebeu um recado através do plano espiritual e traduzimos isso como uma presente de dia dos pais.

Chegou então o domingo de manhã e fomos rumo à Bento Gonçalves. Fomos, eu, o Amaral, meu pai e minha mãe, meu sogro e sua esposa, minhas cunhadas, nossos sobrinhos e o cunhado do Amaral. Só faltou a minha irmã, que estava viajando e não pode estar presente, mas era um legítimo passeio em família.



Família trapo reunida

O trajeto que a Maria Fumaça faz, tem uma parada em Garibaldi, cidade onde mora a Débie, (mãe da Cecília que teve HDC, sobreviveu e está muito bem. Nos conhecemos no hospital em função dos nossos filhos e nos tornamos amigas virtuais). Comentei com a Débie que estaria lá no domingo e então ela me disse que se o tempo estivesse bom, passaria na estação pra gente se ver. Só que o tempo esta um horror, um absurdo de frio, com uma chuva chata. Simplesmente horroroso, um dia daqueles de não botar a cara na rua. Tinha certeza que a Débie não se arriscaria a sair com a Cecília naquele tempo feio, então nem estava esperando que as encontraria.


Eu tinha certeza que a Débie não iria, mas mesmo assim, quando o trem estava parando na estação, olhei meu celular pra ver se ela não tinha me mandado mensagem. Não tinha nada, então fiquei mais certa ainda.


Descemos na plataforma do trem e estavam servindo vinho e suco para degustação. Peguei uma tacinha e resolvi ir pra ponta da plataforma, no lugar onde a Débie disse que estaria se pudesse ir. Vai que ela tivesse resolvido aparecer.... Fui indo pelo meio das pessoas e arrastando comigo as outras 10 pessoas que estavam com a gente. E não é que a Débie estava lá mesmo.

Eu nem tinha percebido, mas de repente o Amaral olha pro lado e com um sorriso gigante, todo eufórico ele me grita “olha lá a Débie e a nenê”. Olhei e a Débie estava nos abanando pela janela do carro. Meu Deus, parecia que eu estava vendo alguém que há muitos anos eu não via. Saí correndo como uma louca e deixei todo mundo pra trás.

Não imaginava que a Débie iria até lá, mas no fundo acho que minha vontade de vê-los era tão grande que eu tinha uma pontinha de esperança, mesmo sabendo que era impossível. Mas o impossível aconteceu.

A Débie não desceu do carro, nem podia, com o tempo feio que estava não dava pra expor a Cecília. Conversamos pela janela mesmo. Tava uma garoa fininha mas eu não tava nem aí se ia me molhar ou não. Todo pessoal que tava com a gente foi ver a Cecília e saber quem era a guriazinha que eu tanto falo. Ela é simplesmente L I N D A... Muito simpática, fez caras e bocas com a gente, se riu o tempo todo. Imagina, nunca tinha nos visto, pensei que ela fosse estranhar. A Cecília se encantou pelo Renan, sobrinho do Amaral, ficava com os olhos vidrados nele.

Quando eu vi a Cecília no hospital, ela tinha uns 2 meses e era bem picorruchinha. Vi só de longe, pois na neo, eu de fora, não podia ter contato com os bebês, e agora ver ela ali, tão linda, tão gordinha, sabendo por tudo que ela tinha passado, me deu uma felicidade enorme. Uma paz tão grande, de saber que é possível sim vencer a HDC. O nosso foi um caso sem sucesso, mas é possível sim.

Pessoalmente eu só conversei com Débie duas vezes, e as duas vezes foi no hospital, se somar o tempo em que conversamos nessas duas vezes não deve chegar há 3 horas, mas quando a vi no domingo, parecia que nós éramos amigas de infância, ficamos tão a vontade e a conversa fluiu normalmente. A mesma coisa aconteceu com o Rafa, e isso que ele eu só tinha visto uma vez. Mas quando o abracei, desejando feliz dia dos pais, era como se eu tivesse abraçando alguém da família.

Uma pena é que não tínhamos muito tempo, pois o trem só fica 20 minutos parado na estação, então precisávamos voltar. Por mim não tinha problema nenhum ficar alí, mas toda nossa família estava junto, e as crianças queriam ir tomar suco, tirar fotos, aproveitar o passeio... entendo eles né...

Então tivemos que nos despedir, mas deixamos combinado que assim que esquentar um pouquinho, vamos fazem um passeio aqui no Zoo. Aí a gente vai botar todo papo em dia.

Nossa, foi tão bom, tão bom ter visto eles, que fiquei eufórica o resto do passeio. Mesmo a distância, e nos falando apenas pela internet, considero a Débie uma grande amiga.

Nós com a Débie e a Cecília (o Rafa estava na direção, por isso não aparece)

Amanda, Cecília e Renan (ela tava encantada por ele)

Mas voltando ao nosso passeio.... seguimos com a Maria Fumaça e estava muito legal. Várias apresentações dentro do trem, música, teatro... Mas durante vários momentos a minha cabeça se voltava pensando no João Pedro, imaginando que ele poderia estar ali com a gente, que já estaria com uma tamanho bom pra levar nesse tipo de passeio.  No vagão que estávamos tinha uma casal com um bebezinho que me lembrava muito ele, bem branquelinho e bicudinho. Olhava praquele menino e não conseguia deixar de comparar. Mas tentava disfarçar e não deixava a tristeza me dominar. Me dei conta também de que além de estarmos com o João Pedro junto, podíamos estar com outro bebezinho crescendo na minha barriga... mas infelizmente não tínhamos isso...

Quando estávamos quase chegando ao final do passeio, a guia do nosso vagão pediu que todos os pais que estivessem presentes ficassem de pé, pois receberiam um presentinho. O Amaral me olhou, não sabia o que fazia, e eu disse pra ele que ele tinha que ficar de pé e receber o presente dele. Entregaram então uma medalha de chocolate escrito super pai. Acho que eu fiquei mais sem jeito do que ele, sei lá, é estranha essa relação de ser pai e mãe mas não ter nosso filho nos braços.

Amaral com sua medalha de super pai


Seguimos nosso passeio, assistimos a apresentação da Epopeia Italiana e acabamos nosso roteiro de dia dos pais num café colonial. Nos divertimos bastante, rimos, brincamos, todos estavam muito felizes, mas ainda assim, falta algo.

Voltamos pra casa no final da tarde. Estávamos tão cansados que tomamos um banho e fomos descansar um pouco e tomar um chimarrão. Começamos a conversar, falamos dos acontecimentos do dia e acredito que isso tenha feito criar um clima nostálgico. Fui preparar algo pra comer e lá da cozinha percebi que o volume da televisão do quarto estava aumentando, aí me dei conta que era a música da Paula Fernandes (Eu quero ser pra você, A alegria de uma chegada, Clarão trazendo o dia, Iluminando a sacada...). Imaginei então que o Amaral estava querendo um carinho. Quando cheguei lá, ele já estava com os olhos vermelhos, e bastou eu chegar perto, pra ele desabar.

Eu sabia que aquele dia estava sendo pesado, e como falei antes, tinha muito medo de um dia ele não aguentar e explodir. Ele sempre foi o forte a situação, sempre matou no peito e me carregou quando eu não tinha mais força, e domingo foi minha vez de fazer isso.

Eu não tinha o que dizer, então só o abracei e disse pra ele chorar. Choramos juntos, pois eu, mais do que ninguém sei bem o que ele estava sentindo. Aí quando ele se acalmou um pouco, começou a desabafar. Disse que estava com dois sentimentos, que sabia que o que aconteceu tinha que acontecer, mas que não conseguia deixar de desejar que nossos filhos estivessem com a gente. Disse que cada vez que via aquele menino no vagão do trem, se imaginava no lugar do pai dele, disse que desejou o tempo todo estar com o João Pedro no colo, mas que sabia que onde o JP estava, estava bem cuidado.


Enfim, desabafou tudo o que estava sentindo, e posso garantir, foi tão forte e tão intenso quanto os meus sentimentos. Todo mundo fala que não existe nada maior que amor de mãe, mas amor de pai é tão grande quanto.


Quando ele se acalmou, já tinha desabafado, então ele me abraçou e me disse: “agora, nós vamos cuidar de nós, dar atenção pra gente. Vamos dar um tempo, ficar fortes de novo, e quando estivermos preparados, a gente vai tentar de novo e aí se Deus quiser, vamos conseguir realizar tudo que a gente sempre sonhou”.


Eu não tenho dúvidas disso. Nós ainda vamos concretizar o nosso sonho e vamos montar a nossa família aqui neste plano, sob o olhar dos nossos anjos no céu, sem pressa.








Um comentário:

  1. Grayce finalmente hj me sobrou um tempinho pra comentar...

    Só quero dizer que sinto por ti exatamente oq sente por mim... Fiquei o sabado tdo pensando no domingo... e depois que nos vimos, fiquei falando pra tdo mundo la na minha sogra hehehehe.

    Não tenho duvidas q logo logo vcs iniciarao a familia de vcs e tdo dará certo!

    torço sempre mto por vcs.

    Beijao

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